quinta-feira, 29 de julho de 2010

Os ex-Combatentes ainda respiram... ou conversas de café!

Ontem quarta-feira, fim de tarde, sendo eu um adepto confesso do rei futebol, "Dragão" dos 4 costados,  resolvi ir até ao Café Lua em Matosinhos, que é um dos meus locais de relaxe e convívio com Amigos, para assistir ao jogo entre o Braga e o Celtic de Glasgow, apenas como interessado num bom jogo e por simpatia com o clube bracarense!
Esplanada quase repleta num fim de tarde esplêndido e eu no interior olhando para a pantalha para acompanhar as incidências do jogo... juntando mais uma meia dúzia de   assistentes, lá íamos vendo o desenrolar dos acontecimentos!
No intervalo e de modo casual com um outro cliente da mesa vizinha, iniciamos uma conversa informal e que foi para onde? adivinhem: Pois claro, era também um antigo combatente da guerra colonial e por arrasto ficamos ambos a saber que o nosso teatro de operações tinha sido práticamente o mesmo, ou seja, ANGOLA,ele o snr Sá Pereira de Viana do Castelo de 1971 a Fev.74 e eu 72 a Set74.O intervalo foi curto para todo um processo de relembrar as memórias desses tempos, mas serviram de ânimo para que filosofâssemos sobre os valores actuais e todo o decurso do nosso ambiente "democrático" que o 25 de Abril 1974 nos trouxe!
Íamos a espaços olhando para o écran vendo o Braga a derrotar de maneira categórica uns escoceses que pelo andamento em campo devem ter "abusado da gastronomia  minhota, e rebobinar um filme que para nós os ex-combatentes que ainda respiram de modo saudável, uns tempos marcantes e decisivos nas nossas vidas...sem traumas!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

AS AVENTURAS E DESVENTURAS DE DANIEL PÔMBOLA...ZÁDI - 1973.

Ele apareceu pelo aquartelamento com não quer a coisa! Era normal, diariamente a nossa Enfermaria atender a população local que se queixava de diferentes patologias de nível acessível aos conhecimentos dos nossos Enfermeiros e outros que apareciam para falar connosco e se possível terem acesso a alguma alimentação, ou refeições que a nossa Cozinha ia disponibilizando conforme podia... havia por isso um trânsito de pessoas numa abordagem aceite entre Militares e População Civil  residente nas imediações ou arredores do aquartelamento Ponte de Zádi. A nossa posição logística era relativamente próxima da nossa fronteira Norte com o Zaire,(actual Republica Democratica do Congo), e assim mais exposta a figuras que apareciam do lado de lá.
O Daniel Pômbola, como pessoa era uma "figura" divertida, pelo arrojo com se nos dirigia e as histórias que nos "contava"...exemplos: "Je parle français" Je viens du Zaire" Je connais beaucoup de gens ...et je ma appelle Daniel Pômbola... intercalando com um português sofrível! Enfim nós achamos piada ao Daniel e durante uns dias aparecia ele lá pelo quartel á procura do "tacho" e dois dedos de conversa!
Mas ele tinha uma obsessão: queria conduzir um jeep ,a carta de condução e aprender Mecânica! E quem eram os instrutores escolhidos? Eu e o Meu colega Furriel Enfermeiro Rocha! Bem todas as vezes ele nos "melgava" com esse pedido, que um dia eu mais o outro meu colega encenámos uma brincadeira: tinha um Jeep que estava no estaleiro á espera de um motor  por isso inoperacional e levamos o Daniel para a primeira aula de condução! Ele sentou-se no lugar do condutor e simulava o barulho do motor enquanto rodava o volante prara a direita e para a esquerda! Nós os dois íamos-mo-nos mantendo de semblante sério á Instrutor de condução e durante uns minutos a lição assim era dada! e á segunda lição acabamos por lhe dar a título simbólico a carta de condução,( que não era mais de que um aerograma em branco com umas assinaturas elegíveis). Como ele queria ser mecânico andava por perto dos mecânicos a "ajudar" nas reparações, com uma produtividade muito duvidosa! um dia fui encontrá-lo a dormir junto á oficina e arranjei o pretexto para o despedir com "justa causa"! E assim o Daniel acabou o seu projecto...
Mas que era uma figurinha lá isso era!
Facetas mais divertidas em que o bom humor não fazia mal a ninguém e o respeito que nos mereciam ao pessoas que connosco se cruzavam... a guerra naquela altura corria mais nos bastidores da política como se viria a comprovar meses mais tarde!

PRAIAS, VERÃO...LUANDA MARÇO 1974!

É verdade sim, Verão Março 1974, este vosso Amigo, no dia em que tinha regressado de férias em Portugal! Saí do Porto com chuva e frio e neste dia 6 de Março, aqui estava eu em grande na praia da Barracuda na Ilha de Luanda! Que saudades meu Deus! Eu não quero ir para outra "parte", sem voltar um dia a Angola! Este projecto meu está na primeira das minhas "prioridades"! Assim as coisas se proporcionem!
E mais uma vez afirmo e repito! Acompanho com especial atenção tudo o que se passa neste País africano, mas "desligado" do contexto  dos anos 70 e "actualizado" para o que é o refazer de uma conjunto de vontades e Povo que lutam pela sua identidade e sonhos, mas sem renegar o passado!
A propósito aqui no meu burgo em pleno Julho, o tempo não está por aí além para dar um salto á praia, com ela aqui tão perto! Ironias...

terça-feira, 6 de julho de 2010

IMAGENS E CENARIOS DA "GUERRA"!

Cena em Ponte de Zádi, noite de fados, interpretado e tocado por um sargento do agrupamento de Engenharia que nos vieram abrir um poço de água potável bem junto ao rio Zádi para abastecer o quartel e que segundo nos dizia, lisboeta de gema e habitual nas noites alfacinhas no Bairro Alto! Uma figura que não mais esqueci porque urbana e de boa convivência... uma face mais alegre dos tempos de guerra!Ao lado esquerdo o Sargento Alentejano de gema, de seu nome Madeira, com ar reflexivo, atrás com o dedo no ar sou eu e á direita com ar pensador o Furriel Enfermeiro de Aveiro, bom camarada!
Este crocodilo andava a pedi-las! Todos os dias parava na mrgem do rio Zádi ao sol, perigosamente perto da ponte onde estávamos aquando das obras para a abertura do tal poço! Tantas vezes nos tentou que um dia um militar lhe "mandou" alimento um pouco indigesto através de uma G3. Aqui está o resultado! E eu armado em caçador! O bicho metia medo!
O Hospital de Maquela do Zombo, já no ano 2008...recuperou a sua dignidade e serventia á população da Vila!




Uma das entradas para Maquela vindos de Sul para Norte -1973 julho

Outra perspectiva da foto acima.




As "máquinas rolantes" última geração que tínhamos ao nosso dispôr... A viatura da direita é a tal que mais tarde se voltou de rodas para o ar num pontão perto de Zádi! Na foto vê-se um dos condutores do meu grupo e debaixo do guarda lamas o mecânico Raposo, alentejano, mas trabalhador incansável! Um exemplo!




Aquartelamento "Fazenda Costa", onde se encontrava a Companhia 3536. Fui lá em serviço e registei o momento...








O marco obelisco da "Fazenda Costa"...




OS ROSTOS (ALGUNS), DOS "BRAVOS" DO 3880...


Amigos que vão dando sinais de uma vontade de viver e contactar com todos os que o desejarem..Aqui fica o meu registo!

OS ACIDENTES DE PERCURSO...NA GUERRA!


SEGUNDO AS ESTATÍSTICAS DA ALTURA, O ITEM ACIDENTES COM VIATURAS NAS ESTRADAS E PICADAS DE ANGOLA, FOI SEMPRE(INFELIZMENTE), UM NÚMERO A CONSIDERAR E CAUSADO POR DOIS MOTIVOS A MEU VER: STRESS EM AMBIENTE DE GUERRA E IMPREPARAÇÃO DE MUITOS CONDUTORES QUE AO FIM DE ALGUM TEMPO DE COMISSÃO SE JULGAVAM UNS AUTÊNTICOS "FITTIPALDIS"...

EU COMO FURRIEL MECÂNICO E COM UM PARQUE DE VIATURAS A MEU CARGO ESTAVA CIENTE DESSAS PREOCUPAÇÕES E NÃO ME CANSAVA DE MOTIVAR E ALERTAR OS MEUS CONDUTORES PARA ESSA EVENTUALIDADE!

NA IMAGEM QUE ILUSTRA ESTE TEXTO, FOI APENAS UM PEQUENO DESCUIDO AO PASSAR POR UM PONTÃO NA PICADA EM MISSÃO DE RECOLHER ÁGUA PARA O NOSSO DEPÓSITO EM PONTE DE ZÁDI, E A BEDFORD VOLANTE Á DIREITA LÁ SE VOLTOU DE RODAS PARA O AR, MAS NINGUÉM SE MAGOOU, A NÃO SER O SUSTO DO CONDUTOR...

No entanto vou citar dois casos caricatos e quase davam em tragédia e passados comigo: o primeiro foi quando na deslocação para Maquela do Zombo, na altura da transferência de aquartelamento, ao fazermos uma paragem em Vila Viçosa, eu ia juntamente com outros colegas naqueles bancos corridos e de arma(G3) na mão. O condutor ao chegar ao largo onde estacionamos, fez uma curva muito fechada e rápida e eu com o impulso senti que tinha de saltar numa fracção de segundo senão cairia desamparado no solo e ainda com a viatura a travar! Saltei, tipo paraquedista, NÃO LARGUEI A ARMA, disfarçei, e não comentei com ninguém o que esteve quase para acontecer de mau!

O outro caso, foi na ida para Ponte de Zádi, no final da transferência, íamos nós em cima da caixa de carga juntamente com bagagens e caixas, quando o condutor da CCS, perde o dominio da viatura esta sai da picada e começa a percorrer uma parte ao lado da dita e aos saltos! Sentimos todos que algo iria acontecer, e já preparados para saltar, mas incrivelmente o condutos consegue retornar á picada e sem parar continua a viagem como se nada fosse! Só em Zádi comentamos o assunto, mas já estávamos conformados com o descuido porque nada de mal acontecera...

Por estas e por outras é que eu nunca deixava ninguém conduzir as viaturas a não ser os Condutores e apenas o comandante de Companhia podia exercer essa função mas a título muito pontual!

Muitas vítimas da impreparação e imprudência se contabilizaram, passando ao lado da "gloriosa" figura de morto em combate...Livra!