quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ANGOLA MARÇO 1974- ANTES DO FIM...



Documentos: ANGOLA MARÇO 1974 - ANTES DO FIM…extracto de um relatório da Companhia que rendeu o B.Caç 3880, na Zona Operacional de Maquela do Zombo.
(…) Depois do 16 de Março na metrópole ou no puto como também era designado Portugal me ter apanhado em mais uma base táctica, desta vez no Munhango, seguiu-se o 25 de Abril que na verdade só soubemos que algo se tinha passado em Lisboa no dia 26 de Abril. E agora? Era a interrogação que em silêncio percorria cada um de nós na esperança de podermos voltar. Os Pides com o seu braço armado, os Flechas, deixaram de encontrar armas escondidas na mata e passaram a andar preocupados com o seu futuro, sentia-se isso nas reuniões que ocorriam na CCS. Quando se falava em podermos vir reforçar as tropas em Luanda de modo a evitar os conflitos que ali ocorriam, saiu-nos uma Guia de Marcha para o Norte de Angola. Ainda houve uma tentativa de nos opormos a essa deslocação, tendo alguns de nós alferes, furriéis e soldados se apresentado no Comando do Sector em Silva Porto na intenção de negociarmos com os Responsáveis Militares a não ida para o Norte desconhecido ao fim de quase 20 meses. As patentes militares não deixaram entrar os soldados e estivemos em conversação sob a ameaça de prisão até perto das 3 da manhã (salvo erro). No final prevaleceu o cumprimento da Guia de Marcha e saímos em direcção a Maquela do Zombo, Béu, Ponte de Zadi e Fazenda Costa antes de rumarmos definitivamente a Luanda para no mês de Dezembro de 1974 passarmos à disponibilidade sem mortos em combate. (…) ==========================/===========================.
ANGOLA 1975- NOS PRIMÓRDIOS DA INDEPENDENCIA- Um ponto de vista de NSIMBA JOANI DIAS. Sobre o modo como a transição para uma Angola independente do domínio português se processou, “democraticamente”! A ler atentamente as primeiras dez páginas…sem correcção ortográfica!

COM O PÉ ESQUERDO NAS TERRAS SANTAS DO NORTE DE ANGOLA.
PESQUISAS DE NSIMBA JOANI DIAS

Introdução

Este texto é uma análise sociológica do que se viveu e que se vive ainda hoje. Um estudo investigativo feito junto a população do Béu, Kuilo e Sacadika que ainda nas suas respeitivas zonas vivem mas também daqueles que se deslocaram a capital. O Autor preferiu expor este resultado na forma narrativa com um carácter socio-histórico. Nele evoca-se pontos críticos como gritos de desesperança e chamada por uma assistência. Diz-se numa expressão africana “Quando morre uma criança, rasga-se uma folha do futuro da nação mas quando morre um velho é uma folha do diccionário que se queima” E áqui morrem crianças e velhos como se fosse numa competição, deixando a familia enlutada aos choros alheios de passantes que não compartilham esta dor preferindo criticar, insultar e chamar outros nomes feios do diccionário tribalista do quotidiano angolano. Angola é nossa, mas voluntàriamente ignoram-se certas zonas angolanas assim como o seu povo é desconsiderado quando como parte de tudo pertence ao espaço e tempo geopolítico que formam Angola, país de futuro certo. Considera-se por áqui qualidades de cidadãos em graus conforme os recursos de cada zona ou de acordo a aproximação histórica de um povo a este ou aquele partido? Neste trabalho procura-se responder se realmente a marcha dos povos do Béu, Kuilo e Sacadika começou-se com o pé esquerdo. Aqui se vê que o progresso de Angola é inevitável mas pergunta-se ele será nacional ou somente as zonas previlegiadas! Este é o desenrolo duma corrida que parte desde 1975 até começa-se falar das eleições livres e democráticas. Barralha durante a independência Circulava-se, em forma de múrmuros, numa tradição de boca para boca a notícia sobre a breve independência de Angola. Os poucos assimilados da terra se escondiam sob uma máscara com um silêncio desconfiador. Os amigos portugueses, comerciantes como militares também com olhadas silenciosas se enrolavam num incognito comportamento que ninguém podia na altura advinhar. Os autóctonos que tinham radios foram negados o direito de comprar pilhas. Portanto a mudança física era tão notável que mesmo cegos podiam descrever. Houve um fluxo de nossos filhos que regressavam da cidade de Carmona ou talvez de Luanda. Alguns comerciantes brancos sumiram e certas lojas fecharam eternamente suas portas. As idas e voltas de tropas coloniais diminuiram nos corredores das pequenas cidades das terras santas do norte de Angola. O sururu sobre a breve independência vinha soprando desde os ventos da radio congolesa. Mesmo a atmosfera do universo mudou de cor e tonalidade, onde a mistura chímica de prazer e tristeza se confundia. Oficialmente não se informou ao povo o que realmente se passa ou que se preve mas as movimentações escondiam algo doce. Este algo especial era só especulativa? Ou simplesmente fofocativa? Que o tempo definirá a lição mas que o povo tenha paciência pois “dia não mata dias”, diz-se por aí fora. Ao amanhecer de um dia tranquilo, os sobas foram surprendidos quando carros da administração passavam para recolher todas as bandeiras verdes de orgulho-português que flutuavam o espaço aéreo de todos os kimbos desafiando a lei física da natureza. O sinal foi apercebido e a festa vai começando. O efetivo militar começou a emagrecer e o contigente de civil brancos entrofiou-se sem pressões. Contrariamente o vulto de filhos mercenários, civis como militares vai duplicando-se diáriamente até quando um dia começaram misteriosamente desfilar ruidos estranhos rompendo os ares e que com o tempo se familiarizaram na audição do povo. Não eram ruidos mas apenasmente vrombissos de grandes mercêdes que vinham do Congo transportando nossos filhos, netos, primos e sobrinhos que lá refugiram, nasceram ou cresceram. Pouco depois começou-se a verrificar uma presença de soldados novos a encher vázios nos quarteis da poderosa tropa colonial. Chegaram os irmãos da FNLA e mais tarde com o tempo apareceram manos da UNITA e finalmente camaradas do MPLA. Festejou-se a nova era que vai brevemente iniciar depois de 500 anos de mbalamatodi. Permutações no palco político Conheceu-se finalmente uma FNLA com políticos vaidosos e uma tropa bruta que desconhecia o respeito pelo povo. Mesmo os que no nosso seio cresceram, optaram por uma vida agressiva, cheia de ameaços. Já ninguém conhecia ninguém e a esperança do povo começou a afastar-se de vagarosamente sem deixar nenhuma penumbra da mesma forma que veio mas desta vez com um silêncio até áqui desconhecido. Tal como os portugueses desapareceram a cara destes povos, a ELNA se retirou deixando o lugar para as gloriosas FAPLAs. Nos primeiros dias estes eram santos que aceitariam de levar as costas qualquer criança que chora a ausência da sua mãe. Com o tempo a bondade destes foi sumindo e vimos estes santos metamorfoseando-se em pugilistas. O surgimento da guerra fez com que as FAPLAs abandonassem essas terras sem confrontar as forças da Unita que viriam substituir-lhes. As forças da Unita vieram com manias que não comem porcos quando ainda de hora a hora assaltavam cabritos nos currais até finalisar com porcos dos povitos. Esta força preferiu isolar-se do povo, arracando a força seus bens, incorporando a força seus filhos e as filhas foram casadas sem consentimentos de ninguém. O povo assiste a uma cobardia não conhecida, a independência tem um cheiro amargurado quando outros sonham sem qualquer processo numa quarta força inexistente. As terras santas tornaram-se pulgatórias para o seu povo. Chamam-se terras santas do norte porque nunca conheceram guerras. Embora que na história destes povos fala-se das lutas de Nselele[1] e Jaime Macumba[2]. Este povo só conheceu a paz desde a contribuição do padre Mariano[3] e de alguns filhos como os professores Dukulo e António Quiala, Francisco etc. Nos últimos minutos da sua suja governação, A FNLA que tinha recuado das zonas quentes sub fogo das Faplas veio massivamente aglomerar-se no Béu. Os comissários locais desta tinham uma macabre estrategia de destruir a ponte do rio Nzadi; única via que liga a sede municipal de Maquela do Zombo as comunas de Béu, Kuilo e Sacadika. Isto só para não permitir a rápida chegada das Faplas. Béu era superlotado com esta presença exagerada de tropa do Elna, confusa pela derrota político-militar mas drogada com a vontade de sucesso.(…) ***************************************************************

INSTALAÇÕES DOS OFICIAIS DO AQUARTELAMENTO DE ZÁDI, QUE FICAVAM EM FRENTE Á ENTRADA PRINCIPAL, NO EXTERIOR. Á DIREITA PODE-SE VER O PELADO QUE SERVIA PARA JOGAR Á BOLA E MAIS AO FUNDO, A ALDEIA ONDE MORAVA ALGUMA POPULAÇÃO LOCAL.A ESTRADA QUE SE VÊ EM TERRA BATIDA (PICADA), VAI EM DIRECÇÃO Á PONTE DE ZADI (A 500 METROS DE DISTÃNCIA) E POVOAÇÃO DO BÉU.

IMAGENS ACTUALIZADAS DA PONTE DE ZÁDI, (MAIO 2012) ONDE PODE VER-SE A PARTE INICIAL QUE FOI RECUPERADA, EM DIRECÇÃO A ZADI, APÓS ANOS DE TER SIDO DESTRUIDA PARCIALMENTE PELA FNLA EM 1975 COM A INTENÇÃO DE IMPEDIR AS OUTRAS FORÇAS NACIONALISTAS ANGOLANAS DE TEREM ACESSO Á ZONA DE MAQUELA DO ZOMBO.
Estes são apenas apontamentos que vão aparecendo, de todos os memoriais que ficaram para todo o sempre  escritos e que lidos agora passados quase quarenta anos, nos fazem entender cada vez melhor, todo o processo de Luta e Libertação de Angola da sua Potência colonizadora, Portugal,mas que ao mesmo tempo nos comprova os ideais que todos de ambos os lados das trincheiras e que nesta Guerra se envolveram, lutaram de diferentes modos e estilos, sem sofismas nem medos...
Irei compilando e colocando aqui neste meu espaço, novas descobertas que eu entenda interessantes para o conhecimento de Angolanos e Portugueses! Assim se vai construindo a nossa História comum!