quinta-feira, 13 de maio de 2010

DO OUTRO LADO DA BARRICADA... PEPETELA GUERRILHEIRO E ESCRITOR



Se nós soubéssemos que do outro lado da barricada haviam seres que pensavam e analisavam outras perspectivas sobre o conflito, seria mais uma razão para mudanças mais rápidas e inteligentes...
PEPETELA E extractos das sua obras eplavars...ontem como hoje!
NO SEU LIVRO: MAYOMBE.
Sinopse
O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do tecto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais.

A GERAÇÃO DA UTOPIA
Sinopse
A Geração da Utopia é o retrato desapiedado dos angolanos a quem ficou a dever-se a epopeia das lutas pela independência e da guerra civil que logo lhe sucedeu, das glórias e das sombras que marcaram esses longos anos de permanente conflito, e do descontentamento e da indiferença que insidiosamente se tornou o estigma de tantos desses homens e mulheres que fizeram, apesar de tudo, um novo país.
Internacionalmente conhecido como uma das mais representativas figuras das letras angolanas…

O PESO DE ALGUMAS PALAVRAS.
CONFERÊNCIA DE PEPETELA, na Universidade Agostinho Neto – (EXTRACTO).
(…) No que nos diz respeito, pode a situação levar a repensar muita da teoria que está por baixo de numerosos actos de governantes e governados, embora normalmente essa teoria se tenha deixado de reconhecer publicamente: refiro-me à ideia, trazida dos tempos coloniais, de que Angola é um país rico. Mesmo se a maior parte de nós não o diz claramente, por já ter vergonha de aparentar uma presunção tão combatida pela própria realidade, pensa-o nas suas conversas secretas com o travesseiro. O convencimento voltou com a euforia dos últimos anos, ao se observar um crescimento anormal do Produto Interno Bruto, apesar de alguns gritos isolados de alerta. Porém, a ideia escondida e falsa acaba sempre por contaminar o processo de traçar planos para o país. A nossa megalomania nacional, verdadeiro traço de carácter, ou, segundo o vetusto Kardiner, um marcador da nossa personalidade de base, provém de julgarmos o país incomensuravelmente rico. Os colonizadores, nos anos sessenta e setenta do século passado, repetiram tantas vezes esta lenda, que ela passou a fazer parte do nosso código genético, por assim dizer, e agora é difícil voltar atrás e admitir o contrário, que somos de facto e por enquanto, apesar de algumas indubitáveis vitórias, um país miserável, incapaz de alimentar suficientemente os seus filhos, incapaz até agora de matar no ovo as diferentes epidemias que nos assolam, incapaz de avançar numa clara política de desenvolvimento sustentado. Mas a crise veio para nos mostrar quanta debilidade afinal apresentamos. E ainda bem. Talvez, se nos mentalizarmos efectiva e definitivamente que país rico é aquele que pode alimentar os seus filhos e prover às suas necessidades básicas sem precisar constantemente de recorrer ao exterior, então estaremos a dar o primeiro passo para sair da situação de subdesenvolvimento em que estamos mergulhados há séculos, situação ultimamente disfarçada, mas mal, pelos arranha-céus de vidros espelhados e planos mirabolantes de viadutos esplendorosos sobre o mar (…)
POIS É, ONTEM COMO HOJE... tudo poderia ser diferente!

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