quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ANGOLA 1975- 2010- 35 ANOS DE UMA INDEPENDÊNCIA...VOTOS AO PRESENTE E AO FUTURO!


Há 35 anos atrás os dilemas eram muitos. Para portugueses com visão progressista mas responsável e para angolanos que queriam e almejavam a sua independência da potencia colonial!
O tempo está a encarregar-se de rectificar o que de  mal foi feito e pessoas que têm ideais mais  de acordo com o que deve ser um País novo!
Nesta data, 35 anos de independencia o que eu posso é desejar que cada vez mais se consolide e olhar o presente e o futuro com realismo e tolerância! As  novas gerações agradecem!
FORÇA ANGOLA!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ex Combatentes . Após 35 anos. Haja honra e não esquecimento

Regresso dos antigos combatentes


A casa da vergonha



São antigos combatentes da Guerra Colonial. Regressaram dos campos de batalha em África mutilados no corpo e na alma. Vivem em situação degradante no Lar Militar da Cruz Vermelha.



A porta de vidro é opaca. Finge estar fechada. Abrimo-la com a mesma facilidade como se estivesse descaradamente aberta. Entramos no Lar Militar da Cruz Vermelha, sediado na Avenida Rainha Dona Amélia, fundado, garante a placa, em 1971. Na recepção, um indivíduo interrompe uma côdea com manteiga para nos atender. Pede-nos o Bilhete de Identidade. Promove-nos a “doutores”. Preferimos os nomes a títulos. Ele gargalha.



O resto do mini-lanche apressa-se no estômago para mostrar lucidez: chama-se Manuel. É angolano. Por sorte, vive. Sorte. Coisa rara em Angola. O barco onde seguia afundou-se. O mar engoliu todos os ocupantes, “menos eu. Menos eu.” Duas vezes para ter a certeza que ainda permanece no reino dos vivos. A guerra não lhe roubou os braços, não lhe amputou as pernas. Corre e abraça. Mas, a contenda, esse choque de sangues, matou-lhe o que não nos quer dizer.



“Já vivi neste lar.” Alivia a lembrança. Quando a sua estadia expirou o prazo, teve que mudar de poiso.



Enquanto traz de volta as balas e os tiros que ouviu e viu em África, as cadeiras de rodas parecem presenças divinas; estão em todos os lados. São guiadas por homens de semblantes iguais. Rostos desmaiados. Com dores e segredos que, à partida, serão idênticos, ou com o mesmo fio doloroso. Seguimos o estrupido do comando das rodas. Manuel faz as honras da casa: enuncia as alcunhas dos deficientes. Num ápice faz o historial da tragédia física de cada um. Seguidamente, fala da sua. Mas não pode adiantar mais. “É confidencial. Eu também fui militar.”



A luz não consegue furar o espaço. Estamos num corredor cinzento. Um corredor com vivos mortos. Passamos por portas com maçanetas irregulares. Portas fechadas. Outras, nem por isso. Vemos: quartos. Cabem três camas. Têm televisões desligadas. Fotografias tão antigas que rejeitam a moldura. O silêncio deixa cair sempre um sonido, menos no Lar Militar da Cruz Vermelha. Ninguém abre a traqueia. Ninguém geme. Aqui, neste beco do mundo, ninguém tem nome. Pode-se entrar e sair sem ninguém dar por isso. Sem que ninguém se importe com isso.



O Governo que pretende proibir a nicotina nos restaurantes e nas discotecas, nesta residência não terá hipótese. Cigarros. Fumo. É névoa assídua.



No refeitório, no canto de uma prateleira de madeira, jazem garrafas e garrafões de vinho, vazios ou por abrir. Um cão de cor indefinida pastoreia na sala. Não ladra. Uma maca encaixou bem de frente ao televisor. Um militar, provavelmente o mais jovem dos internados, estava a servir Portugal numa comissão da ONU e um acidente de carro laminou-lhe os sentidos. Entretém o tédio com o vai-e-vem do ecrã.



São cinco da tarde. A mesa para o jantar está pronta. Pão num saco de plástico. Jarros brancos tapados com guardanapos lívidos. Destapamo-los. Lá dentro vive vinho, “Briol tinto que é o mais eficaz para suportar a noite”, afiança quem se recusa a revelar identidade. “A comida da janta é peru.” Mas tanto lhe faz a ementa de hoje e de há trinta anos.



Os braços e as pernas pararam antes dessa aritmética. A medula quebrou em África. A culpa não foi da pólvora. As minas não foram as culpadas. “Só pelo que vi fiquei assim.” “Só” são os horrores que presenciou e que lhe desencadearam ataques epilépticos. “Mas não quero falar disso.” A sua voz prende-se. Da garganta quer sair um choro. Ele não permite. Acciona a primeira mudança. A cadeira arranca e fica como todas as que resistem na sala: virada para a janela num doloroso abandono.



Alguém faz sinal com os olhos. Cumprimos a discrição. Vamos até à ponta do salão. Um saco a transbordar de totolotos e Euromilhões preenchem a mesa. Saiu ileso do combate em África. É reformado bancário. A reforma de mil euros vai absoluta para o lar. Adormeceu ao volante e o corpo não aguentou o embate. “Bebe-se muito. Aqui bebe-se muito!” Para esquecer ou para aguentar o arco do ponteiro do relógio. Para o que seja, a bebida faz a vez dos analgésicos e alivia os socos do tempo velho.



“Um dia eu contarei tudo o que se passa cá dentro.” Um dia que podia ser já. Mas, chegámos fora de horas. “Um dia. Hoje não.”



Manuel largou o seu posto e aparece à nossa beira. “Vão ao quarto n.º 5. Falem com o Bento.” Não nos esquecemos: confidencial. E agradecemos a confiança.



Os corredores, afinal, também são labirintos de escuridão. E para agravar o mapa, a numeração dos compartimentos é aleatória. Enquanto procuramos uma bendita porta que tenha o número cinco cravado na ombreira, deparamo-nos com a casa de banho. Aberta. Às claras. Uma criatura tenta a custo fazer um gesto simples. Em vão. O corpo não obedece. Ajudar é algo urgente. A cadeira com rodas milagrosas diz-nos que não: vira-nos as costas.



Aceleramos o passo. O cão fugiu do corredor. Continua sem latir. Talvez tenha pressentido qualquer coisa. Temos vergonha de poder fazer essas coisas simples. Temos vergonha deste cemitério doído. Fazemos a curva coxos de humanidade. A vergonha não arreda pé.



Até que enfim que, nesta mansão derrelicta, esbarramos com um empregado. Vem de cigarro pendurado nos dedos.



À parte da senhora que cuidava do prematuro jantar, os empregados, médicos, enfermeiros, são invisíveis. Devem ter hibernado. Daí a surpresa. A pronúncia do Leste sai seca. Bolça ordens: temos que esperar para ir ao referido quarto cinco. É o que fazemos. Depois, quando a impaciência se torna atrevida, batemos à porta. “Façam o favor de entrar.” É o Bento. Uma mulata de bata branca leva--lhe a sopa à boca.



Brincamos com o privilégio: tem uma miss só para ele. O riso traz-lhe saudades e orgulho. “Estou aqui, já faz uns pares de anos.” Combateu em Angola, “faz outros pares de anos.” O tempo, a duração de quando e como foi, quem estava e não estava, não fazem falta para uma conversa.



Na sua dianteira, um espelho emite o presente. Debaixo dos lençóis, repousa inquieto um físico autista. Combatente em Angola. Entre 1965 e 1968. Uma garrafa enxuta de Porta da Ravessa faz de bibelô. “Fui soldado em Angola. Mas não quero falar disso.” Angola é a palavra de ordem. Uma fotografia pendurada na parede ilustra os anos em que podia conduzir o carro mágico: cadeira de rodas. Se gosta, ou não, de estar internado no Lar, em nada lhe altera a rota. Aqui está e aqui ficará. A memória não traz saúde.



Encaminhamo-nos para a saída. Tropeçamos com o gelo da casa de banho. A impossibilidade humana não sofreu mutação. Um homem de laringe muda, vê-nos e desiste. O fragor agudo do motor manda mais do que tudo. Os empregados terão ido mesmo de férias. Um negro de cabelo grisalho não se separa da proximidade. As pernas voaram, mas os músculos dos braços rodam o assento.



Manuel está no seu posto – a entrada. Olha afincadamente para um frasco de perfume. Não sabemos a razão, nem ele. Mas sem querer, aquele odor anestesiou o bafo de solidão e de esquecimento que trazíamos do interior. “É confidencial.” Nem tudo. Como as três folhas onde estão inscritos vinte e um doentes. O vocábulo tetraplégico ganha em incondicional maioria.



As promessas cumprem-se. Voltámos num domingo. Dia da folga de Manuel – fraca pontaria. Este porteiro pertenceu à Polícia. O ritual não sofre alterações. O Bilhete de Identidade é o passaporte. Já fintámos o labirinto. No corredor esvaziado de luz, as caras reconhecem-nos. Os homens sem asas dão as boas-vindas: não viram as cadeiras de rodas. A mãe do militar que viu a sua coluna esmigalhada numa missão na ONU, dá de fumar ao filho.



O futebol expele os dois ‘tês’: o da timidez e o da tristeza. O cão teima em não ganir. O álcool nos copos escondidos e nas veias fazem a rotina. Milagrosamente, a dicção ucraniana amoleceu. Abraça-nos com um cotovelo.



Decorámos o exílio de Bento, esse quarto com o algarismo cinco que tem um espelho a reflectir o calendário. O Bento é o único que não rasgou o diário. Hoje, o passado, apesar de continuar em carne viva, larga mais eco. Em 1968, quando estava pronto para regressar ao seu Algarve, uma bala atingiu-lhe a liberdade motora. No dia 7 de Março a vida estremeceu. De Angola veio para Portugal numa maca. Veio metade. “É assim.” Cortamos a mágoa. Distraímos a mácula com a ausência da Porta da Ravessa. “Nem todos os dias são dias. Mas gosto. Temos que fazer alguma coisa.” Indagamos se é costume receberem visitas de representantes do Estado português ou de dirigentes da Cruz Vermelha. O sim sai-lhe a saca-rolhas. “Não me ponha em barulhos.”



No caminho para a fronteira da humanidade – o acesso para sair do Lar Militar da Cruz Vermelha – lá estava a casa de banho abandonada com gente abandonada a viver num depósito. Os nossos pés pesam e aceleram. Ainda na saída, cruzamo-nos com o amante dos jogos de sorte. Ganhou nove euros. A família foi para a terra.



Ele ficou ali. Insiste no que anteriormente nos disse: “Um dia eu conto tudo o que se passa nesta casa. Ainda não é hoje. Repare nestas paredes. Estão imundas. Não temos ninguém.” Do seu bolso caem duas amêndoas. São nossas. Deixamos a porta aberta.

ESTE RESUMO ACERCA DO LAR MILITAR DA CRUZ VERMELHA  É APENAS UM DOS LADOS SOMBRIOS DOS RESISTENTES QUE TEIMAM EM (SOBRE)VIVER...

domingo, 22 de agosto de 2010

ODE A ANTÓNIO LOBO ANTUNES! O RESPEITO PELO NOSSO PASSADO É BONITO!

Para o bem e para o mal, devemos ter algum cuidado em tratar o nosso passado histórico, porque qualquer ser inteligente e culto consegue saber e analisar racionalmente certos factos da nossa História, seja ela recente ou mais longínqua nos séculos do nosso Portugal!
E agora os nossos cidadãos escritores e não só, deram para zurzir só o que é mais negativo e esqueçem o que pelo contrário  se fez ao longo do nosso passado!
Por isso ás vezes "acagaçam-se" por aquilo que dizem na tentativa de se mostrarem discordantes com o que fizeram no passado! Porque não terem desertado? Seria mais fácil de falar e escrever e poderiam circular por todo o lado a cobertoa da hipocrisia e ignorância dos factos!
Leiam um extracto do que foi publicado no JN, acerca de uma visita do escritor Aparazada  para este fim de semana em Tomar!

Lobo Antunes ausente de Tomar após ameaças



01h48m


O escritor António Lobo Antunes faltou a uma iniciativa em Tomar alegando "razões de segurança", depois de ter sido publicamente ameaçado de violência física por um grupo de militares reformados. (diga-se ex-combatentes do Ultramar português da altura)! 


Segundo Manuel Faria, vice-presidente executivo da entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo e um dos promotores do iniciativa, o escritor cancelou a deslocação a Tomar onde estava previsto passar um fim-de-semana de férias e estar presente na noite deste sábado numa conversa com leitores num café da cidade.


NOTA FINAL: QUEM NÃO QUER SER LOBO, NÃO LHE VESTE A PELE!
E como se ajusta ao dito Lobo esta máxima!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

0 SÍMBOLO DO BATALHÃO 3880...

Este era o Distintivo do Batalhão com uma frase muito apelativa, bem ao jeito dos ventos de guerra...!
Só faltava ali um Dragão, digo eu!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Os ex-Combatentes ainda respiram... ou conversas de café!

Ontem quarta-feira, fim de tarde, sendo eu um adepto confesso do rei futebol, "Dragão" dos 4 costados,  resolvi ir até ao Café Lua em Matosinhos, que é um dos meus locais de relaxe e convívio com Amigos, para assistir ao jogo entre o Braga e o Celtic de Glasgow, apenas como interessado num bom jogo e por simpatia com o clube bracarense!
Esplanada quase repleta num fim de tarde esplêndido e eu no interior olhando para a pantalha para acompanhar as incidências do jogo... juntando mais uma meia dúzia de   assistentes, lá íamos vendo o desenrolar dos acontecimentos!
No intervalo e de modo casual com um outro cliente da mesa vizinha, iniciamos uma conversa informal e que foi para onde? adivinhem: Pois claro, era também um antigo combatente da guerra colonial e por arrasto ficamos ambos a saber que o nosso teatro de operações tinha sido práticamente o mesmo, ou seja, ANGOLA,ele o snr Sá Pereira de Viana do Castelo de 1971 a Fev.74 e eu 72 a Set74.O intervalo foi curto para todo um processo de relembrar as memórias desses tempos, mas serviram de ânimo para que filosofâssemos sobre os valores actuais e todo o decurso do nosso ambiente "democrático" que o 25 de Abril 1974 nos trouxe!
Íamos a espaços olhando para o écran vendo o Braga a derrotar de maneira categórica uns escoceses que pelo andamento em campo devem ter "abusado da gastronomia  minhota, e rebobinar um filme que para nós os ex-combatentes que ainda respiram de modo saudável, uns tempos marcantes e decisivos nas nossas vidas...sem traumas!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

AS AVENTURAS E DESVENTURAS DE DANIEL PÔMBOLA...ZÁDI - 1973.

Ele apareceu pelo aquartelamento com não quer a coisa! Era normal, diariamente a nossa Enfermaria atender a população local que se queixava de diferentes patologias de nível acessível aos conhecimentos dos nossos Enfermeiros e outros que apareciam para falar connosco e se possível terem acesso a alguma alimentação, ou refeições que a nossa Cozinha ia disponibilizando conforme podia... havia por isso um trânsito de pessoas numa abordagem aceite entre Militares e População Civil  residente nas imediações ou arredores do aquartelamento Ponte de Zádi. A nossa posição logística era relativamente próxima da nossa fronteira Norte com o Zaire,(actual Republica Democratica do Congo), e assim mais exposta a figuras que apareciam do lado de lá.
O Daniel Pômbola, como pessoa era uma "figura" divertida, pelo arrojo com se nos dirigia e as histórias que nos "contava"...exemplos: "Je parle français" Je viens du Zaire" Je connais beaucoup de gens ...et je ma appelle Daniel Pômbola... intercalando com um português sofrível! Enfim nós achamos piada ao Daniel e durante uns dias aparecia ele lá pelo quartel á procura do "tacho" e dois dedos de conversa!
Mas ele tinha uma obsessão: queria conduzir um jeep ,a carta de condução e aprender Mecânica! E quem eram os instrutores escolhidos? Eu e o Meu colega Furriel Enfermeiro Rocha! Bem todas as vezes ele nos "melgava" com esse pedido, que um dia eu mais o outro meu colega encenámos uma brincadeira: tinha um Jeep que estava no estaleiro á espera de um motor  por isso inoperacional e levamos o Daniel para a primeira aula de condução! Ele sentou-se no lugar do condutor e simulava o barulho do motor enquanto rodava o volante prara a direita e para a esquerda! Nós os dois íamos-mo-nos mantendo de semblante sério á Instrutor de condução e durante uns minutos a lição assim era dada! e á segunda lição acabamos por lhe dar a título simbólico a carta de condução,( que não era mais de que um aerograma em branco com umas assinaturas elegíveis). Como ele queria ser mecânico andava por perto dos mecânicos a "ajudar" nas reparações, com uma produtividade muito duvidosa! um dia fui encontrá-lo a dormir junto á oficina e arranjei o pretexto para o despedir com "justa causa"! E assim o Daniel acabou o seu projecto...
Mas que era uma figurinha lá isso era!
Facetas mais divertidas em que o bom humor não fazia mal a ninguém e o respeito que nos mereciam ao pessoas que connosco se cruzavam... a guerra naquela altura corria mais nos bastidores da política como se viria a comprovar meses mais tarde!

PRAIAS, VERÃO...LUANDA MARÇO 1974!

É verdade sim, Verão Março 1974, este vosso Amigo, no dia em que tinha regressado de férias em Portugal! Saí do Porto com chuva e frio e neste dia 6 de Março, aqui estava eu em grande na praia da Barracuda na Ilha de Luanda! Que saudades meu Deus! Eu não quero ir para outra "parte", sem voltar um dia a Angola! Este projecto meu está na primeira das minhas "prioridades"! Assim as coisas se proporcionem!
E mais uma vez afirmo e repito! Acompanho com especial atenção tudo o que se passa neste País africano, mas "desligado" do contexto  dos anos 70 e "actualizado" para o que é o refazer de uma conjunto de vontades e Povo que lutam pela sua identidade e sonhos, mas sem renegar o passado!
A propósito aqui no meu burgo em pleno Julho, o tempo não está por aí além para dar um salto á praia, com ela aqui tão perto! Ironias...

terça-feira, 6 de julho de 2010

IMAGENS E CENARIOS DA "GUERRA"!

Cena em Ponte de Zádi, noite de fados, interpretado e tocado por um sargento do agrupamento de Engenharia que nos vieram abrir um poço de água potável bem junto ao rio Zádi para abastecer o quartel e que segundo nos dizia, lisboeta de gema e habitual nas noites alfacinhas no Bairro Alto! Uma figura que não mais esqueci porque urbana e de boa convivência... uma face mais alegre dos tempos de guerra!Ao lado esquerdo o Sargento Alentejano de gema, de seu nome Madeira, com ar reflexivo, atrás com o dedo no ar sou eu e á direita com ar pensador o Furriel Enfermeiro de Aveiro, bom camarada!
Este crocodilo andava a pedi-las! Todos os dias parava na mrgem do rio Zádi ao sol, perigosamente perto da ponte onde estávamos aquando das obras para a abertura do tal poço! Tantas vezes nos tentou que um dia um militar lhe "mandou" alimento um pouco indigesto através de uma G3. Aqui está o resultado! E eu armado em caçador! O bicho metia medo!
O Hospital de Maquela do Zombo, já no ano 2008...recuperou a sua dignidade e serventia á população da Vila!




Uma das entradas para Maquela vindos de Sul para Norte -1973 julho

Outra perspectiva da foto acima.




As "máquinas rolantes" última geração que tínhamos ao nosso dispôr... A viatura da direita é a tal que mais tarde se voltou de rodas para o ar num pontão perto de Zádi! Na foto vê-se um dos condutores do meu grupo e debaixo do guarda lamas o mecânico Raposo, alentejano, mas trabalhador incansável! Um exemplo!




Aquartelamento "Fazenda Costa", onde se encontrava a Companhia 3536. Fui lá em serviço e registei o momento...








O marco obelisco da "Fazenda Costa"...




OS ROSTOS (ALGUNS), DOS "BRAVOS" DO 3880...


Amigos que vão dando sinais de uma vontade de viver e contactar com todos os que o desejarem..Aqui fica o meu registo!

OS ACIDENTES DE PERCURSO...NA GUERRA!


SEGUNDO AS ESTATÍSTICAS DA ALTURA, O ITEM ACIDENTES COM VIATURAS NAS ESTRADAS E PICADAS DE ANGOLA, FOI SEMPRE(INFELIZMENTE), UM NÚMERO A CONSIDERAR E CAUSADO POR DOIS MOTIVOS A MEU VER: STRESS EM AMBIENTE DE GUERRA E IMPREPARAÇÃO DE MUITOS CONDUTORES QUE AO FIM DE ALGUM TEMPO DE COMISSÃO SE JULGAVAM UNS AUTÊNTICOS "FITTIPALDIS"...

EU COMO FURRIEL MECÂNICO E COM UM PARQUE DE VIATURAS A MEU CARGO ESTAVA CIENTE DESSAS PREOCUPAÇÕES E NÃO ME CANSAVA DE MOTIVAR E ALERTAR OS MEUS CONDUTORES PARA ESSA EVENTUALIDADE!

NA IMAGEM QUE ILUSTRA ESTE TEXTO, FOI APENAS UM PEQUENO DESCUIDO AO PASSAR POR UM PONTÃO NA PICADA EM MISSÃO DE RECOLHER ÁGUA PARA O NOSSO DEPÓSITO EM PONTE DE ZÁDI, E A BEDFORD VOLANTE Á DIREITA LÁ SE VOLTOU DE RODAS PARA O AR, MAS NINGUÉM SE MAGOOU, A NÃO SER O SUSTO DO CONDUTOR...

No entanto vou citar dois casos caricatos e quase davam em tragédia e passados comigo: o primeiro foi quando na deslocação para Maquela do Zombo, na altura da transferência de aquartelamento, ao fazermos uma paragem em Vila Viçosa, eu ia juntamente com outros colegas naqueles bancos corridos e de arma(G3) na mão. O condutor ao chegar ao largo onde estacionamos, fez uma curva muito fechada e rápida e eu com o impulso senti que tinha de saltar numa fracção de segundo senão cairia desamparado no solo e ainda com a viatura a travar! Saltei, tipo paraquedista, NÃO LARGUEI A ARMA, disfarçei, e não comentei com ninguém o que esteve quase para acontecer de mau!

O outro caso, foi na ida para Ponte de Zádi, no final da transferência, íamos nós em cima da caixa de carga juntamente com bagagens e caixas, quando o condutor da CCS, perde o dominio da viatura esta sai da picada e começa a percorrer uma parte ao lado da dita e aos saltos! Sentimos todos que algo iria acontecer, e já preparados para saltar, mas incrivelmente o condutos consegue retornar á picada e sem parar continua a viagem como se nada fosse! Só em Zádi comentamos o assunto, mas já estávamos conformados com o descuido porque nada de mal acontecera...

Por estas e por outras é que eu nunca deixava ninguém conduzir as viaturas a não ser os Condutores e apenas o comandante de Companhia podia exercer essa função mas a título muito pontual!

Muitas vítimas da impreparação e imprudência se contabilizaram, passando ao lado da "gloriosa" figura de morto em combate...Livra!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CONTOS DA GUERRA NOUTRA PERSPECTIVA HISTÓRICA


ASSIM SE CONSTROI A HISTÓRIA DE UMA NAÇÃO ENTRE VÁRIOS CAMBIANTES E QUE MUITAS VEZES NOS ESQUECEMOS DE VALIDAR...
LEIAM ESTE ARTIGO MUITO INTERESSANTE PUBLICADO NO "Jornal de Angola" em Janeiro de 2010:
O fim dos mercenários na rota da Damba

TESTEMUNHO DE GARCIA CAMACHO que durante a segunda guerra de libertação nacional foi Comandante do 4º Batalhão das FAPLA
"Angola foi o primeiro Estado soberano do mundo a julgar e condenar, com pesadas penas, as actividades mercenárias. Capturados em Fevereiro de 1976, entre a Damba e Maquela do Zombo, na província do Uíje, os “soldados da fortuna”, como também são conhecidos, foram julgados em Julho de 1976 e condenados, em Luanda, pelo então Tribunal Popular Revolucionário. Entre os condenados, destaca-se o tristemente célebre cidadão grego-britânico Costas Georgio (Capitão Calan), Barcker, Meckenzie, Grillo, Mendonza e Arturo Ortega. Às portas do 34º aniversário da captura e julgamento em Angola dos primeiros “soldados da fortuna”, Jornal de Angola traz à estampa a conversa com um dos participantes directos nos combates que culminaram com a captura do capitão Calan.
Aos 61 anos, Garcia Monteiro Camacho, ex-oficial das FAPLA, tem bem presente na memória os momentos trágicos por que passou antes da captura, a 9 de Fevereiro de 1976, do grupo de mercenários que no Norte do país, coligado às forças zairenses, procurava criar uma zona tampão entre o desvio do Kusso Pete e Soba Nanga para travar o avanço das forças governamentais durante a segunda guerra de libertação nacional.
Comandante do 4º Batalhão das FAPLA, assessorado pelo comandante Veiga Bayer, de nacionalidade cubana, Garcia Camacho recorda que Calan era extremamente violento e um frio assassino.
“Para ele, a vida humana não tinha qualquer importância”, disse, contando o trágico episódio de uma jovem paralítica, morta friamente por Calan com um tiro de pistola na cabeça, por se ter recusado a dar informações sobre a presença de tropas governamentais, junto da sua aldeia, em Soba Nanga.
O antigo comandante das FAPLA conta que as forças governamentais tomaram conhecimento da presença de Calan e companheiros na região, às 17 horas do dia 9 de Fevereiro de 1976, através de um grupo de mulheres.
“Nós libertámos a Damba das forças inimigas no dia 8 de Fevereiro e no dia seguinte, quando avançávamos para Quibocolo (Maquela do Zombo), fomos alertados por um grupo de mulheres que voltava para casa, para a presença entre Kusso Pete e Soba Nanga de soldados brancos, que falavam uma língua estrangeira e que estavam a matar civis e as tropas da FNLA que se recusavam combater”, disse.
Diante dessa informação, um grupo de infantaria foi enviado para actuar a partir da retaguarda das linhas de defesa do inimigo, enquanto os mercenários avançavam com a ilusão de que as tropas governamentais eram apenas aquelas que tinham sido divisadas na sua frente de ataque. “Porque era mês de Fevereiro, com o capim bastante alto e chovia torrencialmente, a nossa penetração em dois flancos na retaguarda do inimigo foi bem sucedida”, recorda o velho comandante das FAPLA.

Meia hora depois, o comando do batalhão dá ordens para o início do ataque. As forças comandadas por Calan, atentas às forças na sua frente de ataque, foram surpreendidas com o fogo cruzado de artilharia e de infantaria dos dois lados de ataque das forças governamentais.
Ante o forte poder de fogo das forças governamentais, quando eram 18H30, Calan e companheiros não tiveram outra alternativa senão recuar. “Quando eles procuravam recuar, num Land Rover descapotável de caixa comprida munido de uma Breda com potentes holofotes, nós começámos a atirar com canhões de 75 mm e 76 mm, descomandando o inimigo, que depois foi completamente desarticulado pelas nossas tropas que se tinham colocado na retaguarda das suas linhas de defesa”, disse.
Como resultado deste ataque, disse Garcia Camacho, vários soldados inimigos são aniquilados, Georges Calan é atingido na rótula e o Land Rover destruído. Eram então 19 horas e continuava a chover torrencialmente. Mas, Calan, mesmo ferido, conseguiu fugir.
“Porque chovia torrencialmente, decidimos passar ali a noite e no dia seguinte, às seis da manhã, averiguar os resultados do combate e depois prosseguir a marcha”, disse Garcia Camacho.

O dia seguinte

Garcia Camacho conta que no dia seguinte, 10 de Fevereiro de 1976, às seis da manhã, quando percorriam o teatro dos combates, um soldado cubano alertou que estava a alguns metros sentado um homem. Era Calan ferido, que sem contemplações atirou a matar. Um outro soldado cubano que quis averiguar o que se estava a passar, também teve o mesmo destino trágico. E não foi desta, segundo o ex-oficial das FAPLA, que Calan foi apanhado. Com o capim alto, conseguiu afastar-se do local e foi esconder-se em casa de uma camponesa chamada Isabel numa aldeia próxima de Quibocolo (Maquela do Zombo). Isabel estava grávida e o seu depoimento em Tribunal foi impressionante.
O ex-oficial das FAPLA conta que as forças governamentais, no avanço para Quibocolo, ainda foram emboscadas por mercenárias no desvio entre Kusse Pete e Quibocolo.
“Desmantelamos o inimigo e quando entrámos em Quibocolo deparámo-nos com um quadro horripilante. Não quero, 34 anos depois, ressuscitar velhos fantasmas, mas é nosso dever contar a verdade dos factos para que a História possa registar. Como dizia, encontrámos em Quibocolo dezenas de mortos completamente dilacerados, entre mulheres, crianças e velhos. Alguns estavam pendurados em árvores. Era um quadro dantesco”, rememora Garcia Camacho com o cenho franzido.
Esse quadro horripilante, segundo o velho comandante, era o resultado da vingança das forças mercenárias em fuga para o então Zaire de Mobutu. Garcia Camacho conta que quatro dos mercenários julgados depois em Luanda foram feitos prisioneiros pelas populações de Quibocolo, tendo o seu batalhão feito prisioneiros outros dois, entre os quais Gregório, que era o adjunto de Calan.
“Nessa altura, Georges Calan ainda estava escondido em casa de dona Isabel, de quem até abusou sexualmente”, disse Garcia Camacho, acrescentando que foi essa camponesa que o denunciou às forças governamentais, que de seguida o aprisionaram. Pálido, Calan foi feito prisioneiro a 13 de Fevereiro de 1976 sem resistência. Camacho diz que o hoje tenente-general Guerra Pires “Guerrito”, por si enquadrado nas então FAPLA, acompanhou todas essas acções militares.
Garcia Camacho conta que teve o primeiro contacto com as forças da guerrilha em 1970, quando cumpria serviço militar no exército português em Cabinda. Diz ter contribuído, juntamente com o então alferes Saturnino, hoje general das FAA, na fuga de 15 soldados que desertaram do exército português em Cabinda, para se enquadrar na guerrilha do MPLA em Brazzaville.
“Este facto foi divulgado pelo programa de rádio Angola Combatente a partir de Brazzaville e o nosso ponto de contacto na capital do Congo era o falecido comandante de coluna Bernardo Sukahata, correligionário do Comandante Hoji ya Henda”, disse.
Garcia Camacho defende a divulgação destes e de outros factos que marcaram a História recente de Angola, enquanto muita gente que sabe dessas coisas ainda está viva.
EU TAMBÉM ACHO QUE A HISTÓRIA DEVE SER CONHECIDA POR TODOS OS CIDADÃOS, NESTE CASO ANGOLANOS, ENRIQUECENDO A NOSSA CIDADANIA, MESMO QUE EM ESPAÇOS DIFERENTES... E ONDE O BATALHÃO 3880-C-CAÇ.3535, CALCORREARAM TAMBÉM NA PROCURA DE UMA PAZ, SEM O SABER NAS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS...

domingo, 23 de maio de 2010

ANGOLA-MAQUELA DO ZOMBO- O ANTES -1972-74 E O DEPOIS...E AGORA

NO EDIFICIO ONDE ESTÁ HASTEADA A BANDEIRA PORTUGUESA, FUNCIONAVA A D.G.S, (ANTIGA PIDE). FOI AQUI QUE ENTREGUEI OS MEUS DOCUMENTOS PARA A 1ª EMISSÃO DO MEU PASSAPORTE! TUDO GENTE "BOA"! TINHAM AINDA UM PEQUENO POSTO NO BANZA SOSSO, JUNTO COM UM DESTACAMENTO DO NOSSO BATALHÃO!


SEM QUERE DIZER MAIS NADA VEJAM COM FICOU O QUARTEL DE MAQUELA COM A GUERRA ENTRE OS MOVIMENTOS,(MPLA, FNLA, UNITA), APÓS A INDEPENDÊNCIA... UM DESBARATAR DE RECURSOS! FELIZMENTE JÁ PASSOU, É TEMPO DE OLHAR EM FRENTE E ANGOLA ESTÁ A FAZÊ-LO!











Já aqui afirmei e volto a lembrar: Não é ,(nem nunca será,) minha intenção denegrir os tempos de hoje , apenas uma visualização do que era numa época de pressões guerreiras, tal como após a independência, e assim podermos fazer uma comparação e avaliar o esforço que foi,(e está a ser) feito, quando uma politica mais sagaz e realista dos tempos da descolonização dos países Africanos se revelava irreversível... desses pecados nunca perdoarei os nossos governantes de outrora! Eis mais algumas fotos e imagens daquelas bandas...

sábado, 22 de maio de 2010

2º dia...Negage Damba, Maquela do Zombo, Ponte de Zádi.

A FOTO DE CIMA ERA O DO AQUARTELAMENTO PONTE DE ZÁDI ONDE FICAMOS! ENTRE JULHO 1973/JULHO 1974.






















ESTA FOTO É DESSE DIA DE JULHO DE 1974, FOI TIRADA POR MIM...






Saimos logo de manhã do Negage e metemo.nos á estrada que a partir de um certo ponto passou a picada em terra batida, embora em razoável estado de conservação. Fomos avançando durante o dia e paramos para almoçar já na Damba. Eram lugares com pouco para ver, e estávamos mais ansiosos de chegar ao nosso destino, primeiro Maquela do Zombo e depois Ponte de Zádi.. A meio da tarde chegamos a Maquela do Zombo, onde após uma paragem mais longa, ao fim do dia abalamos para Ponte de Zadi onde iríamos ficar mais 1 ano até Julho de 1974.







1º dia ...A HORA DA MUDANÇA PARA NORTE...MAQUELA DO ZOMBO E ARREDORES!

O Aquartelamento no interior da Base Aérea, do Negage Negage- a pista da Base Aérea.



em cima a cidade de Carmona,actual Uíge.



a cidade de Negage vista da estrada á entrada.




Como já dissse anteriormente a nossa rendição aproximava-se após termo feito 1 ano em Zemba. Mas só em Julho é que fomos substituidos pelos maçaricos e com tudo em ordem,(no meu caso tive muito cuidado com o material auto e oficina, pelo que no inventario o meu sucessor recebeu tudo em boa ordem), iniciamos a vigem de transferência e que seguiria o itinerario: Vila Viçosa,,(já no asfalto) Quitexe, (uma das cidades mais martirizadas em 61 no início da guerra), depois Carmona,(actual Uíge), seguindo depois até ao Negage,onde pernoitamos, na Base aérea que lá existia, Negage era um importante centro de controlo aéreo na logística dos nossos meios de combate, possuindo uma pista com capacidade de receber aviões de de várias capacidades.





Fizemos um "reconhecimento" nocturno aos restaurantes, para retemperar o corpo e a alma, visto que já há muitos meses que não víamos a sociedade civil...só mato! Vejam as fotos...





quarta-feira, 19 de maio de 2010

ZEMBA- IMAGENS NOS BASTIDORES DAGUERRA



Quase todos nós que por lá passamos temos um acervo destas imagens...mais ou menos iguais!
Zemba estava concluída com normalidade e eficácia! Maquela do Zombo e Ponte de Zadi esperavam-nos, lá mais a Norte junto á fronteira com o antigo Zaìre de Mobutu... depois falarei na nossa viagem até lá...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

DO OUTRO LADO DA BARRICADA... PEPETELA GUERRILHEIRO E ESCRITOR



Se nós soubéssemos que do outro lado da barricada haviam seres que pensavam e analisavam outras perspectivas sobre o conflito, seria mais uma razão para mudanças mais rápidas e inteligentes...
PEPETELA E extractos das sua obras eplavars...ontem como hoje!
NO SEU LIVRO: MAYOMBE.
Sinopse
O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do tecto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais.

A GERAÇÃO DA UTOPIA
Sinopse
A Geração da Utopia é o retrato desapiedado dos angolanos a quem ficou a dever-se a epopeia das lutas pela independência e da guerra civil que logo lhe sucedeu, das glórias e das sombras que marcaram esses longos anos de permanente conflito, e do descontentamento e da indiferença que insidiosamente se tornou o estigma de tantos desses homens e mulheres que fizeram, apesar de tudo, um novo país.
Internacionalmente conhecido como uma das mais representativas figuras das letras angolanas…

O PESO DE ALGUMAS PALAVRAS.
CONFERÊNCIA DE PEPETELA, na Universidade Agostinho Neto – (EXTRACTO).
(…) No que nos diz respeito, pode a situação levar a repensar muita da teoria que está por baixo de numerosos actos de governantes e governados, embora normalmente essa teoria se tenha deixado de reconhecer publicamente: refiro-me à ideia, trazida dos tempos coloniais, de que Angola é um país rico. Mesmo se a maior parte de nós não o diz claramente, por já ter vergonha de aparentar uma presunção tão combatida pela própria realidade, pensa-o nas suas conversas secretas com o travesseiro. O convencimento voltou com a euforia dos últimos anos, ao se observar um crescimento anormal do Produto Interno Bruto, apesar de alguns gritos isolados de alerta. Porém, a ideia escondida e falsa acaba sempre por contaminar o processo de traçar planos para o país. A nossa megalomania nacional, verdadeiro traço de carácter, ou, segundo o vetusto Kardiner, um marcador da nossa personalidade de base, provém de julgarmos o país incomensuravelmente rico. Os colonizadores, nos anos sessenta e setenta do século passado, repetiram tantas vezes esta lenda, que ela passou a fazer parte do nosso código genético, por assim dizer, e agora é difícil voltar atrás e admitir o contrário, que somos de facto e por enquanto, apesar de algumas indubitáveis vitórias, um país miserável, incapaz de alimentar suficientemente os seus filhos, incapaz até agora de matar no ovo as diferentes epidemias que nos assolam, incapaz de avançar numa clara política de desenvolvimento sustentado. Mas a crise veio para nos mostrar quanta debilidade afinal apresentamos. E ainda bem. Talvez, se nos mentalizarmos efectiva e definitivamente que país rico é aquele que pode alimentar os seus filhos e prover às suas necessidades básicas sem precisar constantemente de recorrer ao exterior, então estaremos a dar o primeiro passo para sair da situação de subdesenvolvimento em que estamos mergulhados há séculos, situação ultimamente disfarçada, mas mal, pelos arranha-céus de vidros espelhados e planos mirabolantes de viadutos esplendorosos sobre o mar (…)
POIS É, ONTEM COMO HOJE... tudo poderia ser diferente!

INTERVALO NA "GUERRA"... TRISTEZAS E ALEGRIAS!


A foto acima documenta um caso muito triste que aconteceu com um dos TECO TECO que vinham trazer-nos os alimentos frescos. Este já depois de ter descarregado a sua carga e na volta a Luanda, o piloto levava consigo dois passageiros de boleia, o nosso Padre Capelão e um Cabo especialista na análise das Águas. Só que já depois de ter levantado vôo e ao fazer a segunda passagem á pista para se despedir, e já com o segundo avião em pleno ar, o motor do pequeno avião parou súbitamente e já no fim da pista caiu em pique, capotou, e em fracções de segundos três vidas se perderam perante os nossos olhos estarrecidos com o "espectáculo"! O outro avião voltou para trás e o desespero do segundo piloto era confrangedor ao ver o que tinha sucedido com o colega e os dois militares... enfim a guerra no seu lado mau e obscuro.
E eu que tinha ido meses antes tanbém a Luanda de boleia, quando em serviço no estágio, de certo modo verifiquei que as coisas acontecem quando têm de acontecer...fiquei vacinado contra outros medos!






Ir a Luanda em serviço ou férias significava um potencial de boas surpresas para quem quisesse descobrir a cidade na sua oferta turística, nas especialidades gastronómicas, grelhados, peixe deliciosos, bem temperado, o provar as comidas tradicionais, como a moamba de peixe, marisco, carnes das melhores que tinha provado, enfim foi um fartar vilanagem, já que dinheiro, sempre tinhamos algum...
E era aqui que os meus raciocínios voltavam sempre áquele ponto de questionar o porquê da não resolução do problema militar pela negociação, atempada e podendo fazer com que o decurso da História tivesse outro desfecho! Mas estava escrito de que não seria por essa via...
Passadas as três semanas lá voltamos de novo a Zemba, já mais conhecedores da logistica da Manutenção, e com muitas saudades da capital...já estava a planear as minhas próximas férias!
Em Zemba a situação era calma, as operações faziam-se mas sem grandes "contactos" com os "combatentes" do MPLA, confirmava-se a ideia de que a solução teria de ser outra. Portanto o que tínhamos de fazer era cuidar de que pelo menos a nossa presença fosse útil para as populações,(poucas) que viviam na imediação do quartel.Já em 1973, o ano ia correndo célere e nós já íamos fazendo planos para o próximo lugar onde permaneceríamos até ao fim da comissão.
Fui dos últimos a apanhar a malária, mas lá chegou a minha vez. Febres altas, Resoquina em doses fortes, perda de apetite, só sopas, mas fiquei vacinado para o resto da Comissão!


E esse tempo chegou em Julho, quando recebemos a informação do destino do nosso Batalhão: Norte de Angola, Vila de Maquela do Zombo, onde ficaria a C.C.S, perto da fronteira com o então ZAÌRE, de Mobutu... A C.CAÇ 3535 iris para PONTE DE ZADI,um aquartelamento sem praticamente população envolvente e um rio do mesmo nome ZADI, muito importante e com uma ponte também de certa dimensão em cimento armado, na estrada em direcção ao BÈU, onde ficaria a C.CAÇ 3537. A outra C.CAÇ 3536 foi destacada para o aquartelamento "Fazenda Costa".
Havia que arrumar as coisas e esperar pelos "maçaricos" que nos vinham render e já estávamos a preparar as praxes á nossa maneira...já agora!

IDA A LUANDA, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E PESSOAL OUTUBRO 1972


Em consonância com as atribuições dos Furrieis Mecânicos era essencial um conhecimento acerca dos planos de Manutenção e Condução das BERLIETS, camiões nova geração e que equipavam recentemente o Exército Português. Assim fui de abalada até Luanda, juntamente com o meu companheiro da C.C.S, Furriel Lages, e estivemos cerca de 2 semanas a adquirir essas competências. Na ida para Luanda fomos de "boleia" nos aviões TECO -TECO, que nos visitavam uma vez por semana,(salvo erro), para o abastecimento de frescos ao aquartelamento.

E durante a viagem ia eu atrás num espaço minúsculo, o Piloto á frente e ao seu lado o Lages. Aí reflecti na nossa pequenez a bordo de um "brinquedo" voador como aquele. Mais uma vez a paisagem luxuriante da selva angolana me deslumbrou! Algures naquelas matas espessas, andavam por lá também os "combatentes" dos movimentos que se nos opunham!

Chegamos a Luanda sem problemas e fomos mais uma vez para a zona dos quarteis, mas desta vez ficamos hospedados na messe dos Sargentos , na Avenida dos Combatentes eem Luanda.

O ambiente citadino era de completa normalidade e ausência de sinais das lutas que se travavam algures nas florestas do Norte e no Leste!

Verdade seja dita que a situação militar me parecia controlada pelos meios no terreno e com um cansaço quanto a uma resolução militar do conflito de ambas as partes! E era bom se resolvesse esta situação para o bem de todos!

Algo que chegaria dali a um ano e meio...

domingo, 9 de maio de 2010

O COMPANHEIRISMO MAIS AJUSTADO NUM CENARIO REAL...

NA NOITE DE NATAL 1973 EM PONTE DE ZÁDI APÓS A CEIA... JÁ COM UM AMBIENTE MAIS DESCONTRAÍDO! O COMPANHEIRO QUE ESTÁ AO MEU LADO ESQUERDO É O MESMO QUE FOI TODO FERRADO PELOS MOSQUITOS NO GRAFANIL, LEMBRAM-SE? O MONTEIRO!


ZEMBA - EU EM FRENTE Á OFICINA AUTO COM AR "OPERACIONAL", MAS A MINHA PREOCUPAÇÃO ERA TER VIATURAS EM BOAS CONDIÇÕES...



A CORRIDA DE S. SILVESTRE EM ZEMBA - 01 JANEIRO 1973


Com o decorrer das semanas e meses, começamos a interiorizar que o melhor era estarmos cientes de que cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a niguém, mas não deixamos de aproveitar para um companheirismo e amadurecimento das nossas personalidades como Homens.



Embora ao fim do dia na rádio meio clandestina ouvíssemos a "A Angola Combatente" ligada ao MPLA, a retórica não nos impressionava por aí além. Tínhamos informações da situação real no terreno e sabiamos como nos comportarmos...no entanto eu desejava que este conflito se resolvesse pela via da negociação, já que sentíamos que era a situação mais desejável para resolver o conflito, tanto em Angola como na Guiné e Moçambique!



No entanto na Metrópole, Marcelo Caetano não sabia como o poder realizar, visto que estava rodeado de maus conselheiros...



Que fazer então, viver e estar atento para que nada de mau aparecesse.?



Aconteceu que no dia 01 de Janeiro de 1973,realizamos á tarde uma corrida S.Silvestre ao redor do aquartelamento, pelo lado exterior, com segurança montada e que decorreu sem problemas. Fiquei no meio da corrida, era só pelo prazer de correr e manter a forma física. Á noite um sentinela num dos torreões de segurança, e com um tempo mau,(trovoada e relãmpagos) pensou ver movimentações estranhas no exterior do aquartelamento e disparou alguns tiros, e foi um ver se te avias, a corrermos para as nossas posições de combate, armas na mão, o nosso comandante tentando impor calma e disciplina, e após umas morteiradas dadas por um grupo de intervenção dos nossos, lá voltou a calma á zona. Eu ainda continuo convencido de que a sentinela se precipitou, alguém queria apenas passar por ali sem nos incomodar...



Uma das fotos é da corrida e eu com uma visual "radical" com uma carecada á antiga!



Não houve até sairmos de Zemba quaisquer problemas similares a este que contei! (continua...)



A LOGISTICA DOS BATALHÃO 3880...

ERAM ESTES OS ESPAÇOS COMPONENTES DO BATALHÃO 3880. ZONA TEMPERADA EM TERMOS DE MOVIMENTAÇÃO NOS ANOS 1972/73. OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO ESTAVAM PREOCUPADOS COM OUTRAS PRIORIDADES...




CENTRO COMANDO OPERACIONAL DE SANTA EULÁLIA








AQUARTELAMENTO DA CAMBAMBA







AQUARTELAMENTO DO MUCONDO.








sábado, 8 de maio de 2010

ALERTAS PARA A REALIDADE...


Nos primeiros dias a ordem era para ficarmos despertos na nossas actividades, para já dentro do aquartelamento, (não me esquece após um dia ou dois da nossa chegada, o comandante numa formatura geral fez-nos essas recomendações, e em especial que tivéssemos cuidado com as bebidas alcoólicas pois num clima tropical estas actuavam e faziam "mossa" na nossa capacidade de equilíbrio físico e mental), e enquanto se preparava a primeira operação de reconhecimento na zona...
E tinham passado apenas duas semanas quando esta foi feita, com um pelotão de atiradores da C. Caç 3535 e outros elementos da C.C.S. Foi no regresso da operação que soubemos as "novidades": Uma mina anti-pessoal tinha detonado á passagem de um trilho e a má sorte coube ao "Odivelas", que ficou sem um pé e teve de ser evacuado para Luanda por helicóptero... acabava ali mesmo a sua aventura! Era este companheiro o mesmo que tinha sido Pai no dia do embarque para Angola, lembram.se de eu o ter mencionado? Pois foi e trágica ironia... são estas coisas, que nos despertam para a realidade suja das guerras! "Recordo-me de ter lido há uns tempos vários livros de Pepetela, onde ele relata entre outras coisas, que não tinham nada contra o Povo português, mas sim contra o regime Colonialista, mas o que é certo, é que éramos nós que estávamos no terreno..." Ficamos "zangados por uns tempos com esta experiência!
Eu como especialista, não tinha de ir para as Operações no exterior, mas pelo menos uma vez por mês ia em missão de reabastecimento de material auto á Vila de Quibaxe, onde se situava um PAD,Pelotão de Apoio Directo, era assim que se designavam estes Centros, que nos providenciavam o apoio logístico para as nossas viaturas. Num próximo artigo irei contar como se processavam... (continua...)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A GUERRA FEITA PELO LADO DESPORTIVO!






















Após a chegada e instalados, enquanto que os "velhinhos", só pensavam em abalar para outras paragens, no dia seguinte, e depois de feitas as transferências e inventários de todos os equipamentos do aquartelamento,(eu lá fui receber o parque auto respeitante á C.Caç 3535), lá foram, ficando nós com o desafio e sensação de que agora era a sério... e era! impunha-se uma vistoria mais em pormenor a toda a área e chamou-me a atenção em especila a cadeia montanhosa que nos rodeava e que não deixava de ser imponente pela força que a Natureza nos transmitia, fazendo-nos raciocinar o porquê daquela(s) luta(s) entre duas posições em que o diálogo não foi suficiente e os políticos se recusaram SEMPRE a aceitar como a via mais válida para se resolverem as coisas!






Para lá desta relexões filosóficas que me assolavam, fiquei satisfeito pelo campo de futebol que tínhamos, outro para voleibol, onde iría passar horas gloriosas vencendo campeonatos de tudo e de nada! Seriam 12 meses, pois então que fossem ocupados em toda a sua extensão, na guerra e na paz!






Vejam as imagens do nosso confronto com os camaradas da CCS. GANHÁMOOOSSSS!!!!