quarta-feira, 26 de maio de 2010

CONTOS DA GUERRA NOUTRA PERSPECTIVA HISTÓRICA


ASSIM SE CONSTROI A HISTÓRIA DE UMA NAÇÃO ENTRE VÁRIOS CAMBIANTES E QUE MUITAS VEZES NOS ESQUECEMOS DE VALIDAR...
LEIAM ESTE ARTIGO MUITO INTERESSANTE PUBLICADO NO "Jornal de Angola" em Janeiro de 2010:
O fim dos mercenários na rota da Damba

TESTEMUNHO DE GARCIA CAMACHO que durante a segunda guerra de libertação nacional foi Comandante do 4º Batalhão das FAPLA
"Angola foi o primeiro Estado soberano do mundo a julgar e condenar, com pesadas penas, as actividades mercenárias. Capturados em Fevereiro de 1976, entre a Damba e Maquela do Zombo, na província do Uíje, os “soldados da fortuna”, como também são conhecidos, foram julgados em Julho de 1976 e condenados, em Luanda, pelo então Tribunal Popular Revolucionário. Entre os condenados, destaca-se o tristemente célebre cidadão grego-britânico Costas Georgio (Capitão Calan), Barcker, Meckenzie, Grillo, Mendonza e Arturo Ortega. Às portas do 34º aniversário da captura e julgamento em Angola dos primeiros “soldados da fortuna”, Jornal de Angola traz à estampa a conversa com um dos participantes directos nos combates que culminaram com a captura do capitão Calan.
Aos 61 anos, Garcia Monteiro Camacho, ex-oficial das FAPLA, tem bem presente na memória os momentos trágicos por que passou antes da captura, a 9 de Fevereiro de 1976, do grupo de mercenários que no Norte do país, coligado às forças zairenses, procurava criar uma zona tampão entre o desvio do Kusso Pete e Soba Nanga para travar o avanço das forças governamentais durante a segunda guerra de libertação nacional.
Comandante do 4º Batalhão das FAPLA, assessorado pelo comandante Veiga Bayer, de nacionalidade cubana, Garcia Camacho recorda que Calan era extremamente violento e um frio assassino.
“Para ele, a vida humana não tinha qualquer importância”, disse, contando o trágico episódio de uma jovem paralítica, morta friamente por Calan com um tiro de pistola na cabeça, por se ter recusado a dar informações sobre a presença de tropas governamentais, junto da sua aldeia, em Soba Nanga.
O antigo comandante das FAPLA conta que as forças governamentais tomaram conhecimento da presença de Calan e companheiros na região, às 17 horas do dia 9 de Fevereiro de 1976, através de um grupo de mulheres.
“Nós libertámos a Damba das forças inimigas no dia 8 de Fevereiro e no dia seguinte, quando avançávamos para Quibocolo (Maquela do Zombo), fomos alertados por um grupo de mulheres que voltava para casa, para a presença entre Kusso Pete e Soba Nanga de soldados brancos, que falavam uma língua estrangeira e que estavam a matar civis e as tropas da FNLA que se recusavam combater”, disse.
Diante dessa informação, um grupo de infantaria foi enviado para actuar a partir da retaguarda das linhas de defesa do inimigo, enquanto os mercenários avançavam com a ilusão de que as tropas governamentais eram apenas aquelas que tinham sido divisadas na sua frente de ataque. “Porque era mês de Fevereiro, com o capim bastante alto e chovia torrencialmente, a nossa penetração em dois flancos na retaguarda do inimigo foi bem sucedida”, recorda o velho comandante das FAPLA.

Meia hora depois, o comando do batalhão dá ordens para o início do ataque. As forças comandadas por Calan, atentas às forças na sua frente de ataque, foram surpreendidas com o fogo cruzado de artilharia e de infantaria dos dois lados de ataque das forças governamentais.
Ante o forte poder de fogo das forças governamentais, quando eram 18H30, Calan e companheiros não tiveram outra alternativa senão recuar. “Quando eles procuravam recuar, num Land Rover descapotável de caixa comprida munido de uma Breda com potentes holofotes, nós começámos a atirar com canhões de 75 mm e 76 mm, descomandando o inimigo, que depois foi completamente desarticulado pelas nossas tropas que se tinham colocado na retaguarda das suas linhas de defesa”, disse.
Como resultado deste ataque, disse Garcia Camacho, vários soldados inimigos são aniquilados, Georges Calan é atingido na rótula e o Land Rover destruído. Eram então 19 horas e continuava a chover torrencialmente. Mas, Calan, mesmo ferido, conseguiu fugir.
“Porque chovia torrencialmente, decidimos passar ali a noite e no dia seguinte, às seis da manhã, averiguar os resultados do combate e depois prosseguir a marcha”, disse Garcia Camacho.

O dia seguinte

Garcia Camacho conta que no dia seguinte, 10 de Fevereiro de 1976, às seis da manhã, quando percorriam o teatro dos combates, um soldado cubano alertou que estava a alguns metros sentado um homem. Era Calan ferido, que sem contemplações atirou a matar. Um outro soldado cubano que quis averiguar o que se estava a passar, também teve o mesmo destino trágico. E não foi desta, segundo o ex-oficial das FAPLA, que Calan foi apanhado. Com o capim alto, conseguiu afastar-se do local e foi esconder-se em casa de uma camponesa chamada Isabel numa aldeia próxima de Quibocolo (Maquela do Zombo). Isabel estava grávida e o seu depoimento em Tribunal foi impressionante.
O ex-oficial das FAPLA conta que as forças governamentais, no avanço para Quibocolo, ainda foram emboscadas por mercenárias no desvio entre Kusse Pete e Quibocolo.
“Desmantelamos o inimigo e quando entrámos em Quibocolo deparámo-nos com um quadro horripilante. Não quero, 34 anos depois, ressuscitar velhos fantasmas, mas é nosso dever contar a verdade dos factos para que a História possa registar. Como dizia, encontrámos em Quibocolo dezenas de mortos completamente dilacerados, entre mulheres, crianças e velhos. Alguns estavam pendurados em árvores. Era um quadro dantesco”, rememora Garcia Camacho com o cenho franzido.
Esse quadro horripilante, segundo o velho comandante, era o resultado da vingança das forças mercenárias em fuga para o então Zaire de Mobutu. Garcia Camacho conta que quatro dos mercenários julgados depois em Luanda foram feitos prisioneiros pelas populações de Quibocolo, tendo o seu batalhão feito prisioneiros outros dois, entre os quais Gregório, que era o adjunto de Calan.
“Nessa altura, Georges Calan ainda estava escondido em casa de dona Isabel, de quem até abusou sexualmente”, disse Garcia Camacho, acrescentando que foi essa camponesa que o denunciou às forças governamentais, que de seguida o aprisionaram. Pálido, Calan foi feito prisioneiro a 13 de Fevereiro de 1976 sem resistência. Camacho diz que o hoje tenente-general Guerra Pires “Guerrito”, por si enquadrado nas então FAPLA, acompanhou todas essas acções militares.
Garcia Camacho conta que teve o primeiro contacto com as forças da guerrilha em 1970, quando cumpria serviço militar no exército português em Cabinda. Diz ter contribuído, juntamente com o então alferes Saturnino, hoje general das FAA, na fuga de 15 soldados que desertaram do exército português em Cabinda, para se enquadrar na guerrilha do MPLA em Brazzaville.
“Este facto foi divulgado pelo programa de rádio Angola Combatente a partir de Brazzaville e o nosso ponto de contacto na capital do Congo era o falecido comandante de coluna Bernardo Sukahata, correligionário do Comandante Hoji ya Henda”, disse.
Garcia Camacho defende a divulgação destes e de outros factos que marcaram a História recente de Angola, enquanto muita gente que sabe dessas coisas ainda está viva.
EU TAMBÉM ACHO QUE A HISTÓRIA DEVE SER CONHECIDA POR TODOS OS CIDADÃOS, NESTE CASO ANGOLANOS, ENRIQUECENDO A NOSSA CIDADANIA, MESMO QUE EM ESPAÇOS DIFERENTES... E ONDE O BATALHÃO 3880-C-CAÇ.3535, CALCORREARAM TAMBÉM NA PROCURA DE UMA PAZ, SEM O SABER NAS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS...

domingo, 23 de maio de 2010

ANGOLA-MAQUELA DO ZOMBO- O ANTES -1972-74 E O DEPOIS...E AGORA

NO EDIFICIO ONDE ESTÁ HASTEADA A BANDEIRA PORTUGUESA, FUNCIONAVA A D.G.S, (ANTIGA PIDE). FOI AQUI QUE ENTREGUEI OS MEUS DOCUMENTOS PARA A 1ª EMISSÃO DO MEU PASSAPORTE! TUDO GENTE "BOA"! TINHAM AINDA UM PEQUENO POSTO NO BANZA SOSSO, JUNTO COM UM DESTACAMENTO DO NOSSO BATALHÃO!


SEM QUERE DIZER MAIS NADA VEJAM COM FICOU O QUARTEL DE MAQUELA COM A GUERRA ENTRE OS MOVIMENTOS,(MPLA, FNLA, UNITA), APÓS A INDEPENDÊNCIA... UM DESBARATAR DE RECURSOS! FELIZMENTE JÁ PASSOU, É TEMPO DE OLHAR EM FRENTE E ANGOLA ESTÁ A FAZÊ-LO!











Já aqui afirmei e volto a lembrar: Não é ,(nem nunca será,) minha intenção denegrir os tempos de hoje , apenas uma visualização do que era numa época de pressões guerreiras, tal como após a independência, e assim podermos fazer uma comparação e avaliar o esforço que foi,(e está a ser) feito, quando uma politica mais sagaz e realista dos tempos da descolonização dos países Africanos se revelava irreversível... desses pecados nunca perdoarei os nossos governantes de outrora! Eis mais algumas fotos e imagens daquelas bandas...

sábado, 22 de maio de 2010

2º dia...Negage Damba, Maquela do Zombo, Ponte de Zádi.

A FOTO DE CIMA ERA O DO AQUARTELAMENTO PONTE DE ZÁDI ONDE FICAMOS! ENTRE JULHO 1973/JULHO 1974.






















ESTA FOTO É DESSE DIA DE JULHO DE 1974, FOI TIRADA POR MIM...






Saimos logo de manhã do Negage e metemo.nos á estrada que a partir de um certo ponto passou a picada em terra batida, embora em razoável estado de conservação. Fomos avançando durante o dia e paramos para almoçar já na Damba. Eram lugares com pouco para ver, e estávamos mais ansiosos de chegar ao nosso destino, primeiro Maquela do Zombo e depois Ponte de Zádi.. A meio da tarde chegamos a Maquela do Zombo, onde após uma paragem mais longa, ao fim do dia abalamos para Ponte de Zadi onde iríamos ficar mais 1 ano até Julho de 1974.







1º dia ...A HORA DA MUDANÇA PARA NORTE...MAQUELA DO ZOMBO E ARREDORES!

O Aquartelamento no interior da Base Aérea, do Negage Negage- a pista da Base Aérea.



em cima a cidade de Carmona,actual Uíge.



a cidade de Negage vista da estrada á entrada.




Como já dissse anteriormente a nossa rendição aproximava-se após termo feito 1 ano em Zemba. Mas só em Julho é que fomos substituidos pelos maçaricos e com tudo em ordem,(no meu caso tive muito cuidado com o material auto e oficina, pelo que no inventario o meu sucessor recebeu tudo em boa ordem), iniciamos a vigem de transferência e que seguiria o itinerario: Vila Viçosa,,(já no asfalto) Quitexe, (uma das cidades mais martirizadas em 61 no início da guerra), depois Carmona,(actual Uíge), seguindo depois até ao Negage,onde pernoitamos, na Base aérea que lá existia, Negage era um importante centro de controlo aéreo na logística dos nossos meios de combate, possuindo uma pista com capacidade de receber aviões de de várias capacidades.





Fizemos um "reconhecimento" nocturno aos restaurantes, para retemperar o corpo e a alma, visto que já há muitos meses que não víamos a sociedade civil...só mato! Vejam as fotos...





quarta-feira, 19 de maio de 2010

ZEMBA- IMAGENS NOS BASTIDORES DAGUERRA



Quase todos nós que por lá passamos temos um acervo destas imagens...mais ou menos iguais!
Zemba estava concluída com normalidade e eficácia! Maquela do Zombo e Ponte de Zadi esperavam-nos, lá mais a Norte junto á fronteira com o antigo Zaìre de Mobutu... depois falarei na nossa viagem até lá...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

DO OUTRO LADO DA BARRICADA... PEPETELA GUERRILHEIRO E ESCRITOR



Se nós soubéssemos que do outro lado da barricada haviam seres que pensavam e analisavam outras perspectivas sobre o conflito, seria mais uma razão para mudanças mais rápidas e inteligentes...
PEPETELA E extractos das sua obras eplavars...ontem como hoje!
NO SEU LIVRO: MAYOMBE.
Sinopse
O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do tecto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais.

A GERAÇÃO DA UTOPIA
Sinopse
A Geração da Utopia é o retrato desapiedado dos angolanos a quem ficou a dever-se a epopeia das lutas pela independência e da guerra civil que logo lhe sucedeu, das glórias e das sombras que marcaram esses longos anos de permanente conflito, e do descontentamento e da indiferença que insidiosamente se tornou o estigma de tantos desses homens e mulheres que fizeram, apesar de tudo, um novo país.
Internacionalmente conhecido como uma das mais representativas figuras das letras angolanas…

O PESO DE ALGUMAS PALAVRAS.
CONFERÊNCIA DE PEPETELA, na Universidade Agostinho Neto – (EXTRACTO).
(…) No que nos diz respeito, pode a situação levar a repensar muita da teoria que está por baixo de numerosos actos de governantes e governados, embora normalmente essa teoria se tenha deixado de reconhecer publicamente: refiro-me à ideia, trazida dos tempos coloniais, de que Angola é um país rico. Mesmo se a maior parte de nós não o diz claramente, por já ter vergonha de aparentar uma presunção tão combatida pela própria realidade, pensa-o nas suas conversas secretas com o travesseiro. O convencimento voltou com a euforia dos últimos anos, ao se observar um crescimento anormal do Produto Interno Bruto, apesar de alguns gritos isolados de alerta. Porém, a ideia escondida e falsa acaba sempre por contaminar o processo de traçar planos para o país. A nossa megalomania nacional, verdadeiro traço de carácter, ou, segundo o vetusto Kardiner, um marcador da nossa personalidade de base, provém de julgarmos o país incomensuravelmente rico. Os colonizadores, nos anos sessenta e setenta do século passado, repetiram tantas vezes esta lenda, que ela passou a fazer parte do nosso código genético, por assim dizer, e agora é difícil voltar atrás e admitir o contrário, que somos de facto e por enquanto, apesar de algumas indubitáveis vitórias, um país miserável, incapaz de alimentar suficientemente os seus filhos, incapaz até agora de matar no ovo as diferentes epidemias que nos assolam, incapaz de avançar numa clara política de desenvolvimento sustentado. Mas a crise veio para nos mostrar quanta debilidade afinal apresentamos. E ainda bem. Talvez, se nos mentalizarmos efectiva e definitivamente que país rico é aquele que pode alimentar os seus filhos e prover às suas necessidades básicas sem precisar constantemente de recorrer ao exterior, então estaremos a dar o primeiro passo para sair da situação de subdesenvolvimento em que estamos mergulhados há séculos, situação ultimamente disfarçada, mas mal, pelos arranha-céus de vidros espelhados e planos mirabolantes de viadutos esplendorosos sobre o mar (…)
POIS É, ONTEM COMO HOJE... tudo poderia ser diferente!

INTERVALO NA "GUERRA"... TRISTEZAS E ALEGRIAS!


A foto acima documenta um caso muito triste que aconteceu com um dos TECO TECO que vinham trazer-nos os alimentos frescos. Este já depois de ter descarregado a sua carga e na volta a Luanda, o piloto levava consigo dois passageiros de boleia, o nosso Padre Capelão e um Cabo especialista na análise das Águas. Só que já depois de ter levantado vôo e ao fazer a segunda passagem á pista para se despedir, e já com o segundo avião em pleno ar, o motor do pequeno avião parou súbitamente e já no fim da pista caiu em pique, capotou, e em fracções de segundos três vidas se perderam perante os nossos olhos estarrecidos com o "espectáculo"! O outro avião voltou para trás e o desespero do segundo piloto era confrangedor ao ver o que tinha sucedido com o colega e os dois militares... enfim a guerra no seu lado mau e obscuro.
E eu que tinha ido meses antes tanbém a Luanda de boleia, quando em serviço no estágio, de certo modo verifiquei que as coisas acontecem quando têm de acontecer...fiquei vacinado contra outros medos!






Ir a Luanda em serviço ou férias significava um potencial de boas surpresas para quem quisesse descobrir a cidade na sua oferta turística, nas especialidades gastronómicas, grelhados, peixe deliciosos, bem temperado, o provar as comidas tradicionais, como a moamba de peixe, marisco, carnes das melhores que tinha provado, enfim foi um fartar vilanagem, já que dinheiro, sempre tinhamos algum...
E era aqui que os meus raciocínios voltavam sempre áquele ponto de questionar o porquê da não resolução do problema militar pela negociação, atempada e podendo fazer com que o decurso da História tivesse outro desfecho! Mas estava escrito de que não seria por essa via...
Passadas as três semanas lá voltamos de novo a Zemba, já mais conhecedores da logistica da Manutenção, e com muitas saudades da capital...já estava a planear as minhas próximas férias!
Em Zemba a situação era calma, as operações faziam-se mas sem grandes "contactos" com os "combatentes" do MPLA, confirmava-se a ideia de que a solução teria de ser outra. Portanto o que tínhamos de fazer era cuidar de que pelo menos a nossa presença fosse útil para as populações,(poucas) que viviam na imediação do quartel.Já em 1973, o ano ia correndo célere e nós já íamos fazendo planos para o próximo lugar onde permaneceríamos até ao fim da comissão.
Fui dos últimos a apanhar a malária, mas lá chegou a minha vez. Febres altas, Resoquina em doses fortes, perda de apetite, só sopas, mas fiquei vacinado para o resto da Comissão!


E esse tempo chegou em Julho, quando recebemos a informação do destino do nosso Batalhão: Norte de Angola, Vila de Maquela do Zombo, onde ficaria a C.C.S, perto da fronteira com o então ZAÌRE, de Mobutu... A C.CAÇ 3535 iris para PONTE DE ZADI,um aquartelamento sem praticamente população envolvente e um rio do mesmo nome ZADI, muito importante e com uma ponte também de certa dimensão em cimento armado, na estrada em direcção ao BÈU, onde ficaria a C.CAÇ 3537. A outra C.CAÇ 3536 foi destacada para o aquartelamento "Fazenda Costa".
Havia que arrumar as coisas e esperar pelos "maçaricos" que nos vinham render e já estávamos a preparar as praxes á nossa maneira...já agora!

IDA A LUANDA, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E PESSOAL OUTUBRO 1972


Em consonância com as atribuições dos Furrieis Mecânicos era essencial um conhecimento acerca dos planos de Manutenção e Condução das BERLIETS, camiões nova geração e que equipavam recentemente o Exército Português. Assim fui de abalada até Luanda, juntamente com o meu companheiro da C.C.S, Furriel Lages, e estivemos cerca de 2 semanas a adquirir essas competências. Na ida para Luanda fomos de "boleia" nos aviões TECO -TECO, que nos visitavam uma vez por semana,(salvo erro), para o abastecimento de frescos ao aquartelamento.

E durante a viagem ia eu atrás num espaço minúsculo, o Piloto á frente e ao seu lado o Lages. Aí reflecti na nossa pequenez a bordo de um "brinquedo" voador como aquele. Mais uma vez a paisagem luxuriante da selva angolana me deslumbrou! Algures naquelas matas espessas, andavam por lá também os "combatentes" dos movimentos que se nos opunham!

Chegamos a Luanda sem problemas e fomos mais uma vez para a zona dos quarteis, mas desta vez ficamos hospedados na messe dos Sargentos , na Avenida dos Combatentes eem Luanda.

O ambiente citadino era de completa normalidade e ausência de sinais das lutas que se travavam algures nas florestas do Norte e no Leste!

Verdade seja dita que a situação militar me parecia controlada pelos meios no terreno e com um cansaço quanto a uma resolução militar do conflito de ambas as partes! E era bom se resolvesse esta situação para o bem de todos!

Algo que chegaria dali a um ano e meio...

domingo, 9 de maio de 2010

O COMPANHEIRISMO MAIS AJUSTADO NUM CENARIO REAL...

NA NOITE DE NATAL 1973 EM PONTE DE ZÁDI APÓS A CEIA... JÁ COM UM AMBIENTE MAIS DESCONTRAÍDO! O COMPANHEIRO QUE ESTÁ AO MEU LADO ESQUERDO É O MESMO QUE FOI TODO FERRADO PELOS MOSQUITOS NO GRAFANIL, LEMBRAM-SE? O MONTEIRO!


ZEMBA - EU EM FRENTE Á OFICINA AUTO COM AR "OPERACIONAL", MAS A MINHA PREOCUPAÇÃO ERA TER VIATURAS EM BOAS CONDIÇÕES...



A CORRIDA DE S. SILVESTRE EM ZEMBA - 01 JANEIRO 1973


Com o decorrer das semanas e meses, começamos a interiorizar que o melhor era estarmos cientes de que cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a niguém, mas não deixamos de aproveitar para um companheirismo e amadurecimento das nossas personalidades como Homens.



Embora ao fim do dia na rádio meio clandestina ouvíssemos a "A Angola Combatente" ligada ao MPLA, a retórica não nos impressionava por aí além. Tínhamos informações da situação real no terreno e sabiamos como nos comportarmos...no entanto eu desejava que este conflito se resolvesse pela via da negociação, já que sentíamos que era a situação mais desejável para resolver o conflito, tanto em Angola como na Guiné e Moçambique!



No entanto na Metrópole, Marcelo Caetano não sabia como o poder realizar, visto que estava rodeado de maus conselheiros...



Que fazer então, viver e estar atento para que nada de mau aparecesse.?



Aconteceu que no dia 01 de Janeiro de 1973,realizamos á tarde uma corrida S.Silvestre ao redor do aquartelamento, pelo lado exterior, com segurança montada e que decorreu sem problemas. Fiquei no meio da corrida, era só pelo prazer de correr e manter a forma física. Á noite um sentinela num dos torreões de segurança, e com um tempo mau,(trovoada e relãmpagos) pensou ver movimentações estranhas no exterior do aquartelamento e disparou alguns tiros, e foi um ver se te avias, a corrermos para as nossas posições de combate, armas na mão, o nosso comandante tentando impor calma e disciplina, e após umas morteiradas dadas por um grupo de intervenção dos nossos, lá voltou a calma á zona. Eu ainda continuo convencido de que a sentinela se precipitou, alguém queria apenas passar por ali sem nos incomodar...



Uma das fotos é da corrida e eu com uma visual "radical" com uma carecada á antiga!



Não houve até sairmos de Zemba quaisquer problemas similares a este que contei! (continua...)



A LOGISTICA DOS BATALHÃO 3880...

ERAM ESTES OS ESPAÇOS COMPONENTES DO BATALHÃO 3880. ZONA TEMPERADA EM TERMOS DE MOVIMENTAÇÃO NOS ANOS 1972/73. OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO ESTAVAM PREOCUPADOS COM OUTRAS PRIORIDADES...




CENTRO COMANDO OPERACIONAL DE SANTA EULÁLIA








AQUARTELAMENTO DA CAMBAMBA







AQUARTELAMENTO DO MUCONDO.








sábado, 8 de maio de 2010

ALERTAS PARA A REALIDADE...


Nos primeiros dias a ordem era para ficarmos despertos na nossas actividades, para já dentro do aquartelamento, (não me esquece após um dia ou dois da nossa chegada, o comandante numa formatura geral fez-nos essas recomendações, e em especial que tivéssemos cuidado com as bebidas alcoólicas pois num clima tropical estas actuavam e faziam "mossa" na nossa capacidade de equilíbrio físico e mental), e enquanto se preparava a primeira operação de reconhecimento na zona...
E tinham passado apenas duas semanas quando esta foi feita, com um pelotão de atiradores da C. Caç 3535 e outros elementos da C.C.S. Foi no regresso da operação que soubemos as "novidades": Uma mina anti-pessoal tinha detonado á passagem de um trilho e a má sorte coube ao "Odivelas", que ficou sem um pé e teve de ser evacuado para Luanda por helicóptero... acabava ali mesmo a sua aventura! Era este companheiro o mesmo que tinha sido Pai no dia do embarque para Angola, lembram.se de eu o ter mencionado? Pois foi e trágica ironia... são estas coisas, que nos despertam para a realidade suja das guerras! "Recordo-me de ter lido há uns tempos vários livros de Pepetela, onde ele relata entre outras coisas, que não tinham nada contra o Povo português, mas sim contra o regime Colonialista, mas o que é certo, é que éramos nós que estávamos no terreno..." Ficamos "zangados por uns tempos com esta experiência!
Eu como especialista, não tinha de ir para as Operações no exterior, mas pelo menos uma vez por mês ia em missão de reabastecimento de material auto á Vila de Quibaxe, onde se situava um PAD,Pelotão de Apoio Directo, era assim que se designavam estes Centros, que nos providenciavam o apoio logístico para as nossas viaturas. Num próximo artigo irei contar como se processavam... (continua...)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A GUERRA FEITA PELO LADO DESPORTIVO!






















Após a chegada e instalados, enquanto que os "velhinhos", só pensavam em abalar para outras paragens, no dia seguinte, e depois de feitas as transferências e inventários de todos os equipamentos do aquartelamento,(eu lá fui receber o parque auto respeitante á C.Caç 3535), lá foram, ficando nós com o desafio e sensação de que agora era a sério... e era! impunha-se uma vistoria mais em pormenor a toda a área e chamou-me a atenção em especila a cadeia montanhosa que nos rodeava e que não deixava de ser imponente pela força que a Natureza nos transmitia, fazendo-nos raciocinar o porquê daquela(s) luta(s) entre duas posições em que o diálogo não foi suficiente e os políticos se recusaram SEMPRE a aceitar como a via mais válida para se resolverem as coisas!






Para lá desta relexões filosóficas que me assolavam, fiquei satisfeito pelo campo de futebol que tínhamos, outro para voleibol, onde iría passar horas gloriosas vencendo campeonatos de tudo e de nada! Seriam 12 meses, pois então que fossem ocupados em toda a sua extensão, na guerra e na paz!






Vejam as imagens do nosso confronto com os camaradas da CCS. GANHÁMOOOSSSS!!!!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Luanda cidade de surpresas...até Zemba!







Após a nossa chegada ao Grafanil passamos lá o dia para nos instalarmos até chegar daí a uns dias a ordem de marcha para ZEMBA -DEMBOS. Ao início da noite fomos fazer uma primeira visita á cidade, começando pela baixa, na esplanada do Paris-Versailles, que como pude constatar era muito concorrida, não só por militares como por civis! Visitando outros lugares para jantar e beber uns copos, começei a aperceber-me de uma cidade viva, fremente e quase irreal, para nós visto que íamos com um sentido diferente,ou seja a palavra guerra não saía do nosso subconsciente. Pelos contactos que íamos estabelecendo com varias pessoas, militares ou não, eu fiquei logo "preso", por aquela cidade e o seu ar envolvente. Havia de lá voltar muito em breve!



Á noite de volta ao Grafanil, fixei uma cena tragi-cómica, na camarata onde estávamos instalados: o meu colega furriel Monteiro que lá tinha ficado de "sargento de dia", estava a dormitar e todo ferrado pelos mosquitos, que viam nele uma espaço bom para exercerem a sua "presença"! Muito nos rimos todos com aquele espectáculo! Pobre Monteiro! Os repelentes e os mosquiteiros começaram logo a entrar em acção!



A partida para Zemba aconteceu uma madrugada dias depois e passamos se bem me lembro, pelos locais que passo a citar: Caxito, Dondo, Úcua, Piri, a célebre Ponte do Dange, entrando depois em picada dura, chegamos ao Mucondo, onde ficaria uma das Companhias, 3537, onde almoçamos, seguimos depois até Sta Eulália, que era a sede do Comando Militar daquela Zona Operacional, e ao fim do dia chegamos a ZEMBA, um quadrado situado numa zona montanhosa, antiga fazenda e que foi também um Centro de Instrucção de Comandos uns anos antes após a eclosão da guerra. Tinha ainda nas imediações uma Sanzala onde moravam as pessoas civis que ali viviam ...



Os "velhinhos" que íamos render lá nos fizeram a recepção com a teatralidade que esperávamos, com simulações de ferimentos, mercuro-cromo bastante, muletas e tudo, para ver a nossa reacção de "maçaricos"! Eu não liguei muito, porque já estava avisado dessas formalidades...



Estava era já a pensar que tipo de viaturas e que condições estas estavam para no dia seguinte começar a inventariar e receber. Como Furriel Mecânico da Companhia, tinha uma grande tarefa pela frente! Neste aquartelamento ficamos então instalados a C.C.S e a Cª Caç. 3535- do Batalhão 3880, onde ficaríamos em princípio 1 ano...(continua).

terça-feira, 4 de maio de 2010

A PARTIDA PARA A GRANDE "AVENTURA"...JUNHO 13.


O embarque estava marcado para o fim do dia 13 Junho,(feriado de Stº António em Lisboa),, foi aí pela primeira vez, (e última), que participei numa noitada alfacinha, juntamente com alguns colegas e quisemos assim despedirmo-nos de terras "portugas", já que andávamos um pouco ansiosos e pelo sim pelo não sempre íamos mais animados! Ao chegarmos ao principio da noite ao terminal de Figo Maduro e esperar que a "ave voadora" nos levasse até Luanda foram momentos especiais. Antes uns minutos de embarcamos já se sabia que um militar tinha sido pai nesse dia e só tivera tempo para ver a esposa e o recém-nascido e há que abalar até ali ao lado,(Luanda). Foi por isso, que eu ia "livre" como um passarinho no que diz respeito a namoradas, quanto mais esposas...
A viagem feita nos Boeings novos que os TAM tinham adquirido foi a primeira mas que me causou uma sensação de conforto e segurança, mas não consegui dormir por horas, só a espaços...Quando no dia seguinte nos aproximamos de Luanda, breves momentos antes de aterrarmos, o comandante disse-nos para aproveitarmos para ver lá de cima a paisagem, e o que mais me chamou a atenção foi a côr do terreno nos arredores da cidada,(vermelha) e um mundo de telhados de zinco mais ou menos alinhados! Já mais próximo do centro e do aeroporto deu para ver o perfil inegualável da baía de Luanda... bonita e atraente. Já em terra, o ar quente que nos recebeu e nos deu as boas vindas, acordou-nos de vez! Havia que transportar todos os membros da "comitiva, até ao RI20, no Grafanil,para a instalação provisória até á transferência para o nosso destino ZEMBA, na zona dos DEMBOS! (continua...)

sábado, 1 de maio de 2010

O PRINCÍPIO DA AVENTURA...JUNHO 1972 A CHEGADA A LUANDA...


NOTA PRÉVIA: TUDO O QUE EU AQUI ESCREVER NÃO TEM QUALQUER INTENÇÃO "SAUDOSISTA", NEM TOCAR AO DE LEVE QUE SEJA, COM A ACTUAL ANGOLA, PAÍS SOBERANO, EM BUSCA DE UM PRESENTE E FUTURO QUE FAÇA COM MILHÕES DE ANGOLANOS,(E NÃO SÓ) POSSAM SORRIR AOS NOVOS TEMPOS E VENTOS DE UMA CIDADANIA QUE SE EXIGE, E TODOS AQUELES QUE TEIMAM EM PERPETUAR A SUA ARROGÂNCIA E PODER, DE MODO OPRESSIVO...ESTAMOS ENTENDIDOS? ANGOLA SERÁ PARA MIM SEMPRE A MINHA 2ª PÁTRIA, QUER GOSTEM OU NÃO!